Produtores de diferentes países dedicam tecnologia e gestão com foco em ESG. Poupar os recursos naturais e incentivar equidade de gênero no mercado de vinhos estão em destaque nas iniciativas

 

A preocupação em garantir a sustentabilidade dos recursos e poupar o meio ambiente é uma máxima que há décadas está presente no dia a dia de produtores de vinho de todo o mundo. A Cantu Grupo Wine destaca iniciativas de alguns produtores de diferentes países que envolvem diversas áreas das vinícolas na busca por redução de impactos, otimização de recursos naturais e impacto social positivo.

 

Casa Relvas, da região do Alentejo, em Portugal, Susana Balbo, de Mendoza, na Argentina, e Casella Family Brands, na Austrália, têm reforçado iniciativas ESG em seus, unindo qualidade e eficiência na produção. Com isso, as vinícolas se destacam frente aos consumidores atentos à uma produção de vinhos que favorece o meio ambiente e não apenas o consumo da bebida.

 

Como parte do Programa de Sustentabilidade de Vinhos do Alentejo (PSVA), a Casa Relvas se tornou a primeira entre as dez maiores empresas produtoras de vinho da região a obter a certificação de Produção Sustentável. A vinícola reduziu o uso de água em cerca de 30% na produção de cada garrafa de vinho e implementou um sistema para reutilizar água na irrigação das vinhas.

 

Toda a água usada na adega é reciclada para irrigação, e o consumo é controlado por sensores e bombas eficientes. Além disso, 20% da produção é de agricultura biológica, utilizando ovelhas merino para minimizar herbicidas e fertilizando as videiras com composto de origem animal.

 

Vale destacar que a Casa Relvas é um projeto familiar que nasceu em 1997 e conta com a dedicação de duas gerações. Hoje, são cerca de 350 hectares de vinha responsáveis por produzir 6 milhões de garrafas por ano, 70% das quais são exportadas para mais de 30 países. Um dos principais mercados da Casa Relvas é o Brasil, que recebe os vinhos exclusivamente pela Cantu Grupo Wine, a casa das grandes marcas.

 

Vinícola Casa Relvas, no Alentejo, Portugal

 

“A sustentabilidade é a forma da Casa Relvas estar no negócio. Desde que iniciamos nossa produção, nossa prioridade são as pessoas e o meio ambiente. Muito antes de as certificações serem exigidas, esse já era o nosso jeito de fazer vinho. Além disso, buscamos ser uma referência para os pequenos produtores, que não podem fazer investimentos grandiosos em tecnologia, mas podem aplicar uma mentalidade de trabalho sustentável no dia a dia”, afirma Alexandre Relvas, co-CEO da Casa Relvas, reforçando que dessa forma acredita impactar além da própria vinha, contribuindo para a preservação do Alentejo.

 

Outra iniciativa de sustentabilidade, dessa vez, no âmbito social, é a contribuição com o desenvolvimento da comunidade do Alentejo. Para isso, anualmente, a Casa Relvas dedica 10% de seus resultados a doações a instituições sociais da região.

 

Casella Family Brands inaugura nova fazenda solar na Austrália

 

Com o objetivo de reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em 50% até 2030 e alcançar 100% até 2050, a Casella Family Brands fez seu maior investimento em sustentabilidade neste ano. A vinícola, que já tinha uma fazenda solar de capacidade de 5,7MW, lançou, neste ano, um segundo sistema solar para alimentar a estação de tratamento de águas residuais, gerando 890,47 MWh de eletricidade por ano. Trata-se de uma das maiores fazendas solares do país.

 

Segundo o diretor da empresa, John Casella, “o valor projetado para o investimento nos projetos solares é de vários milhões de dólares. A empresa adota práticas sustentáveis de forma holística, abordando resíduos, biodiversidade, água e embalagens”, destaca.

 

Outras iniciativas incluem avaliar o potencial de energia solar nas instalações da Morris Winery e melhorias na fábrica de cerveja em Yenda, com otimizações de energia nos equipamentos e redução de movimentações de pallets utilizados na logística.

 

Na vinícola e na unidade de engarrafamento em Yenda, 78% dos resíduos são reciclados. Melhorias na compactação de resíduos plásticos reduziram os movimentos de caminhões em 22%, e a vinificação produz subprodutos como hastes compostadas e bagaço reciclado.

 

A vinícola australiana possui ainda um dos maiores sistemas de tratamento de águas residuais em seu país, reciclando o equivalente a mais de 160 piscinas olímpicas por ano. Para isso, realiza o plantio de árvores nativas e a aplicação de cobertura morta sob as videiras.

 

Em termos de embalagens, a empresa é membro da Australian Packaging Covenant Organisation (APCO), trabalhando para otimizar embalagens e reduzir o peso das garrafas de vidro. Fechamentos resseláveis e recicláveis, como ZORKS e Nomacorc, também são usados para manter a frescura dos vinhos e reduzir a pegada de carbono.

 

Para além da sustentabilidade: liderança feminina é destaque na Susana Balbo

 

Na Argentina, a vinícola Susana Balbo, localizada em Mendoza, investe em uma atuação sustentável para fortalecer o enoturismo, incluindo hospitalidade e gastronomia de primeira qualidade e visando garantir esse acesso também às futuras gerações. A vinícola divide a gestão de sustentabilidade em três grandes pilares: negócios, pessoas e ambiente.

 

Na frente de negócio, trabalha fortemente iniciativas de segurança do trabalho, segurança alimentar e qualidade dos produtos. Atualmente, a vinícola é referência no tema e atua em conformidade com os marcos definidos pelo Protocolo de Sustentabilidade de Bodegas da Argentina, além de atender à Brand Reputation Through Compliance Global (BRCGS) e ao Pacto Global das Nações Unidas.

 

No pilar pessoas, a diversidade está em foco. Fundada em 1999 pela primeira enóloga da Argentina, Susana Balbo, a vinícola traz fortemente a abordagem de ESG a começar pela presença de lideranças femininas na diretoria, incomum no mercado de vinhos. A filha de Susana, Ana Balbo, é diretora de Marketing da vinícola, co-fundadora do hotel boutique Susana Balbo Unique Stays, e ainda, fundadora do Osadía de Crear, um restaurante na Susana Balbo, que valoriza ingredientes e a cultura da região.

 

Além disso, do total de funcionários da vinícola, cerca de 40% são mulheres. Nos cargos gerenciais da empresa, 45% são ocupados por mulheres e o objetivo de Susana é ir além.

 

Reconhecida internacionalmente, a produtora Susana Balbo é referência em vinhos brancos. Um dos destaques de visibilidade de sua marca no mundo é o vinho Torrontés, que chega ao Brasil exclusivamente pela importadora Cantu Grupo Wine. Com aroma perfumado, esse vinho tinha problemas de excesso de amargor na boca. A solução que a fundadora encontrou foi inédita: a vinícola foi a primeira a usar a clarificante caseína (uma proteína derivada do leite) na produção do Torrontés. Com a mudança, o resultado foi um vinho menos adstringente e com estrutura tânica mais suave.

 

No meio ambiente, a gestão eficiente da água e da energia nas instalações de produção e nos vinhedos da vinícola é ponto de atenção constante, mirando a adoção de tecnologias e práticas que minimizem o consumo, além da educação continuada dos colaboradores para promover utilização responsável de cada recurso.

 

“Analisamos como gerir nossos vinhedos de maneira sustentável e promovemos práticas agrícolas respeitosas com o meio ambiente e a biodiversidade; Fomentamos a biodiversidade nos vinhedos e protegemos os ecossistemas do nosso entorno”, diz Edgardo Del Pópolo, gerente geral e viticultor responsável pela frente de sustentabilidade da vinícola Susana Balbo.

 

A sustentabilidade na Casa Relvas em números

 

CO2:

 

A empresa toma medidas para assegurar que o CO2 produzido por garrafa vendida diminua progressivamente.

 

90% dos vinhos são embalados em garrafas leves (menos de 420g).

 

Água:

 

100% da água utilizada na adega é reciclada para irrigação.

 

O consumo de água é controlado com sensores de tensão hídrica e bombas de irrigação eficiente.

 

Contadores de água e medidores permitem controle remoto do consumo de água.

 

Solo:

 

100% de conformidade com Global Gap e 100% PSVA.

 

20% de agricultura biológica:

 

O rebanho de ovelhas Merino permite o uso mínimo de herbicidas.

 

Fertilização natural das videiras com composto animal e urbano.

 

Biodiversidade:

 

Corredores de biodiversidade na vinícola com plantas nativas.

 

Insetos e fungos nativos para favorecer o ecossistema de forma natural, evitando uso de produtos químicos.

 

Gestão de Resíduos:

 

95% dos resíduos são reciclados (incluindo cakas e BIB)

 

98% de cartão certificado FSC.

 

Floresta:

 

A Casa Relvas possui 725 hectares de floresta ibérica, contribuindo para a preservação da biodiversidade.

 

Essa área é um dos 36 hotspots mundiais: áreas naturais do planeta Terra que possuem uma grande diversidade ecológica e que estão em risco de extinção