Na exposição de Sandra Gonçalves, que inaugura no dia 15 de outubro, estão presentes temas como feminicídio e silenciamento das mulheres.

 

As mulheres, resilientes e sobreviventes, buscam forças na vida marcada pelo vermelho na exposição “Imagens do Desassossego” da artista, professora titular e pesquisadora de fotografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sandra Gonçalves, com curadoria de Letícia Lau. São 12 imagens na mostra que inaugura no dia 15 de outubro, às 19h, no Espaço de Artes da UFSCPA (localizado na Rua Sarmento Leite, 245, prédio 1, térreo), em Porto Alegre. A exposição fica no local até o dia 9 de novembro e pode ser visitada de segunda à sexta, das 9h às 20h, e, aos sábados, das 9h às 12h. Entrada franca.

 

“Os trabalhos desta exposição refletem as minhas sensações e percepções em resposta à pandemia de Covid-19 e suas consequências sociais. Afetada pelo caos e pelo medo gerado pelo vírus invisível e mortal, exploro, no pós-Covid, um mundo que se desintegra e expõe suas feridas como nunca. As imagens focam nas mulheres e em sua posição no momento, em que filtros diversos obscurecem a visão do presente. A sociedade torna-se mais binária e excludente, especialmente para aqueles que não se encaixam nos padrões estabelecidos. Esse cenário intensificou-se no contexto pandêmico e pós-pandêmico, afetando gravemente as mulheres. No Brasil, o aumento de feminicídios e agressões reflete uma sociedade machista e destrutiva que desrespeita as diferenças e não aceita a recusa, especialmente das mulheres”, conta Sandra Gonçalves.

 

Para a artista, as mulheres, resilientes e sobreviventes, buscam forças na vida marcada pelo vermelho – seja o sangue menstrual, o sangue de dores físicas ou psicológicas, seja o sangue causado pela violência. “As imagens retratam um passado e um presente que oprime mulheres de todas as etnias, cis ou trans. Os corpos doloridos e abusados frequentemente mostram-se nus, desafiando as instituições machistas históricas. Queimadas e açoitadas ao longo dos séculos, essas mulheres expõem seus corpos como um campo de batalha. Embora pareçam presas aos modelos impostos pelos opressores, buscam liberdade. O vermelho também simboliza a ira de Lilith contra seus algozes, refletindo uma afirmação irônica e corajosa frente à submissão histórica”, contextualiza.

 

A curadora Letícia Lau observa que Sandra Gonçalves, através de sua lente e de apropriações de imagens captadas da internet, transforma as fotografias em um manifesto político e social. “Ao citar temas como o feminicídio, a violência e o silenciamento histórico das mulheres — cis e trans — as obras de Sandra Gonçalves se posicionam como um grito contra as opressões de uma sociedade misógina. Seus trabalhos desnudam não só os corpos, mas também as feridas e as mazelas de uma parte do mundo que se mostra incapaz de acolher as diferenças”, conclui.

 

“La vie en rouge”

 

Durante a inauguração da exposição, a artista também vai autografar seu livro La vie en rouge. A obra apresenta um ensaio com imagens que combinam fotografias, ilustrações, camadas, texturas, insetos, corpos nus, corpos altivos, olhares profundos e penetrantes. O fotolivro La vie en rouge trata de mulheres e do seu estar no mundo, em que filtros de todas as ordens impedem uma visão clara do agora. Os corpos doloridos e abusados neste conjunto, muitas vezes mostram-se nus e lascivos numa afronta às instituições machistas, formadas ao longo da história escrita pelos homens. Questões relacionadas à vida em seus múltiplos aspectos sociais, culturais, econômicos e à sobrevivência do planeta e de suas diferentes espécies são as que inspiram Sandra Gonçalves e impulsionam seu processo criativo também na obra, que poderá ser adquirida por R$ 83 na abertura da exposição.

 

A exposição Imagens do Desassossego e o fotolivro La vie en rouge estão sendo destacados em uma série de prêmios e editais nacionais. A obra foi selecionada pela Coleção Photothings, que concretiza o desejo de fazer com que fotógrafos e fotógrafas de todas as regiões do Brasil tenham a oportunidade de mostrar seu trabalho. Assim, Sandra foi selecionada para a publicação do fotolivro, representando a região Sul. O livro também foi selecionado pelo 2º Festival de Fotografia Mulheres Luz e será apresentado na mostra que ocorre de 16 a 20 de outubro, no Unibes Cultural, em São Paulo. Em março de 2025, um recorte maior desse material formado pela exposição e pelo fotolivro serão apresentados em uma exposição na Câmara de Deputados em Brasília.

 

Sobre a artista:

 

Sandra Gonçalves é natural da cidade do Rio de Janeiro. Ela vive a fotografia: pesquisa, promove atividades de extensão e leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Sul desde 2005, quando se mudou para Porto Alegre. Artista visual desde o ano 2000. Possui graduação em Comunicação Visual da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mestrado e Doutorado em Comunicação e Cultura também pela UFRJ. Participa do Grupo de Extensão Lúmen (UFRGS), onde se desenvolve pesquisa prático/teórica sobre os processos Históricos de Impressão Fotográfica. Desde 2000, produz e expõe suas obras relacionadas à fotografia híbrida que envolve técnicas analógicas e digitais, expandindo a referência fotográfica. Suas propostas acercam assuntos relacionados ao tempo, ao corpo e ao nosso contemporâneo.

 

Exposição “Imagens do Desassossego”

Artista: Sandra Gonçalves

Local: Espaço de Artes da UFSCPA (localizado na Rua Sarmento Leite, 245, prédio 1, térreo)

Período: 15 de outubro a 9 de novembro

Entrada Franca

 

Pauta: Tati Csordas