O mercado de reposição automotiva é imensurável. O maior meio de transporte, seja de passageiros ou de cargas e também de trabalho rural, ainda é o rodoviário e, neste contexto, o Brasil tem uma vasta lista de itens de reposição para atender essas demandas, sejam para reposição de peças de desgaste ou peças para reposição em caso de danos sofridos.

 

De acordo com o Anuário 2025 da Abipeças e do Sindipeças, a frota circulante total brasileira supera a marca de 48 milhões de veículos, leves, médios, pesados e motocicletas, sendo que mais de 80% são veículos leves e apenas 4,58% é a representatividade de veículos pesados de carga, ou seja, caminhões.

 

Conforme dados das mesmas entidades, a frota circulante pesada cresceu 2,8% em 2024. Sendo assim, a demanda por peças de reposição cresce, no mínimo, na mesma proporção seguindo a lógica, correto? Mas e por que a maioria das indústrias que fabricam peças para reposição não estão vendo esse crescimento, mesmo que pequeno, em %, nas suas fábricas? A resposta está no aumento absurdo das importações desses itens.

 

De acordo com o site Transporte Moderno, que referencia dados obtidos pelo Sindipeças, a China continua sendo o principal mercado de origem de autopeças, lugar que ocupa desde 2018. Vale destacar ainda que essas importações cresceram 28,5% em 2024, comparado ao ano anterior.

 

Analisando estes dados, podemos entender o impacto que esse crescimento de importação de peças automotivas oriundas da China causa na indústria de autopeças brasileira. Deixamos de crescer 28,5%, ou melhor, perdemos quase 30% de produção brasileira, e o impacto não fica apenas nos números dos relatórios de importações de peças dos sindicatos da categoria ou relatórios de negócios internacionais, ele vai além disso. Esse número tem reflexo em toda cadeia produtiva brasileira, desde a geração de emprego, ou melhor, no desemprego, pois perdemos esse mercado. Diferente de perder a oportunidade de crescimento, perdemos a porcentagem de participação que já era nossa.

 

A indústria nacional é pressionada diariamente pela busca da excelência na qualidade do produto, matérias-primas de primeira linha, processos controlados e rastreáveis, garantia de qualidade e certificações. Por outro lado, verificamos o crescimento de lojas de produtos chineses em todas as cidades brasileiras, produtos de todos os tipos, e o mais curioso é que essas lojas estão sempre cheias, porque o produto é barato.

 

Muitas vezes até escutamos: “Ah, mas se não durar, tudo bem, custou tão pouco”. Será que custou tão pouco mesmo? O nosso tempo e o transporte de ir até a loja e adquirir o produto ou mesmo o tempo de busca do produto nos famosos e-commerces, e normalmente quando você mais precisa o tal produto barato não funciona ou quebra.

 

No entanto, o pior cenário não é esse, é a cadeia que vem antes. É o desemprego gerado. É a indústria que por falta de venda fecha suas portas. É o aumento do risco da desindustrialização brasileira, pois afinal, é mais barato importar e onde fica a qualidade tão exigida da fábrica nacional? Porque a exigência não é a mesma do importado. A resposta seria: “porque é mais barato, então a indústria brasileira pode começar a utilizar matérias-primas secundárias, não controlar processos e assim entregar um produto mais barato”.

 

Ainda assim não seria possível, porque a nossa carga tributária é maior do que quem importa. Sim, produtos importados têm benefícios fiscais enquanto a fabricação nacional tem carga fiscal. Da mesma forma que pessoas de outros países têm seu aluguel custeado pelo governo, mas a mãe de quatro filhos que está desempregada não tem.

 

Uma grande parcela de culpa desse atual cenário é do nosso governo, mas a outra é nossa, de todos nós consumidores, por optar por produtos importados, sustentar a economia de outros países e não a nossa. No momento da compra é mais barato, mas a conta vem e com juros irreparáveis.

 

Sobre Gisele Sandri

 

:: Gestora empresarial com mais de 20 anos de experiência no mercado.

 

:: CEO da Multilight Lanternas.

 

:: Especialista em Turnaround e em Administração Empresarial de Processos de Recuperação Judicial.

 

:: Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).

 

:: Desde 2004, desenvolve uma abordagem própria de gestão estratégica focada no desenvolvimento organizacional, eficiência e crescimento sustentável.