
Zahy Tentehar, Fernanda Kaingang, Olinda Tupinambá e Yanaki Herrera são as primeiras convidadas e seus episódios já estão no ar com cultura, arte, maternidade, memória e ancestralidade
O podcast Nhexyrõ, palavra em Guarani que significa rede de conexões, caminhos, trajeto, é um convite para tecer redes de pensamentos e ações coletivas no cenário da arte indígena contemporânea. A nova temporada retoma o formato de entrevistas conduzidas por duas personalidades de destaque: a artista Brisa Flow e o curador e educador Idjahure Terena. Juntos eles recebem notáveis figuras da arte indígena para aprofundar a discussão sobre o contexto atual, desafios e a força criativa dos artistas originários. Esta segunda temporada é uma homenagem ao legado e memória do artista Jaider Esbell, uma das vozes mais importantes da arte indígena brasileira. O projeto Nhexyrõ é uma realização das produtoras Sem Início Sem Fim e Outro Acontecimento em parceria com o Governo Federal e o financiamento do Pró Cultura RS através do Plano Nacional Aldir Blanc (PNAB).
Partindo do substantivo Nhexyrõ, Verá Tupã, artista e professor Guarani Mbyá ensina: “viver sozinho é muito difícil, melhor é estar junto, fortalecer as iniciativas de colaboração mútua.” É nesse espírito de união e circulação que o projeto se inspira, honrando a tradição ancestral dos povos originários de criar caminhos de troca de conhecimentos, histórias e tecnologias. A equipe destaca que o título carrega um significado ainda mais profundo, conforme explicado por Jerônimo Verá Tupã: “Nhexyrõ significa ligar nosso espírito ao espírito de Nhanderú, que por sua vez é ligado a tudo que existe. Ayvu Nhexyrõ é muito sagrado, é estar conectado um ao outro.” O projeto se propõe, assim, a criar redes de diálogo e luta por meio da arte. Os novos episódios do podcast Nhexyrõ: artes indígenas em rede estão disponíveis nas plataformas Spotify e YouTube.
Nas entrevistas, assuntos urgentes e necessários, com ativistas, artistas e educadores que vem fazendo trabalhos relevantes e propondo reflexão e inclusão. Zahy Tentehar, premiada com Prêmio Shell de Teatro na categoria de Melhor Atriz em 2023 e homenageada pelo Theatro São Pedro com uma placa permanente em 2025, é ativista, artista plástica, diretora, cantora e atriz é filha de Azira’i, diretamente da Reserva Indígena Cana Brava do Maranhão para festivais de teatro do mundo todo. Motivo de orgulho para os povos indígenas, Zahy Tentehar é a primeira convidada do podcast.
Fernanda Kaingang, a primeira diretora indígena do agora Museu dos Povos Indígenas, uma conquista inédita para os povos indígenas é a segunda convidada de Nhexyrõ. Proteger o patrimônio cultural, os conhecimentos tradicionais e a diversidade biológica dos povos indígenas é sua missão. Vale a pena se aprofundar em sua tese de doutorado: “Direitos negados, patrimônios roubados: desafios para a proteção dos conhecimentos tradicionais, recursos genéticos e das expressões culturais tradicionais dos povos indígenas no cenário internacional.”
A cineasta e performer Olinda Tupinambá nos guia por sua trajetória, que conecta cinema, território e espiritualidade. No podcast será abordada a importância do seu corpo como corpo político em suas performances e o papel da arte na luta contra o racismo ambiental. Olinda se define como semeadora de sementes e demarca o território indígena no cinema a partir de seu trabalho como curadora. Aqui, ela nos conta como a arte se tornou uma ferramenta para reflorestar a existência.
Yanaki Herrera, artista visual transdisciplinar de origem quechua, mãe, e pesquisadora de maternidades dissidentes integra o podcast, onde reflete sobre como exercer a sexualidade para mulheres racializadas pode ser um ponto de tensão moral em um mundo colonial.Projetos como Comunidade do Cuidado e sua nova exposição Yunza, visam ressignificar coletividades e memórias ancestrais, combatendo o isolamento social. Também reflete sobre a importância fundamental da rede de apoio para a saúde mental das mães, como a arte foi um lugar de reconstrução de identidade indígena, o ócio como parte da luta, e a urgência de espaços na arte que acolham as infâncias indígenas.
Mônica Michelena, indígena charrua, ativista e professora, e a artivista Oderiê, transfronteiriça e indígena do povo Charrua compartilham suas jornadas de autodescoberta e a luta contra o mito da extinção, revivendo a memória de um genocídio fundante ocorrido em 1831. Falarão sobre “rearmar o grande quellapí da memória” – pedacinhos de história costurados por mulheres – e a força do Kenamben (renascimento) para as novas gerações Charruas.
A pensadora e multiartista boliviana Elvira Espejo Ayca, que transita entre a poesia, a música e as artes visuais, atuando como uma força crítica contra a estrutura vertical e eurocêntrica da arte e da educação, compartilha a filosofia da “Nutrição Mútua das Artes” (la crianza mútua de las artes), um conceito enraizado nas línguas Aymara e Quechua, que substitui o termo acadêmico e extrativista de “domesticação”. Ela discute como essa filosofia guiou sua gestão no Museu Nacional de Etnografia e Folclore (MUSEF) na Bolívia, onde promoveu a coautoria das próprias comunidades indígenas nas publicações e catálogos.
Isaías Miliano artista do povo Patamona, faz da sua arte uma forma de se manter na luta indigena em sua casa, Roraima,território de tríplice fronteira do Brasil, Guiana e Venezuela. Isaías discute o legado de Jaider Esbell e como o trabalho em conjunto ajudou a despertar o orgulho dos povos indígenas de Roraima. Fala sobre seu trabalho com pintura e escultura e sua pesquisa arqueológica pelos sítios arqueológicos de Roraima.
A cineasta, professora e liderança Sueli Maxakali nos guia por sua trajetória, onde o cinema se tornou uma arma de luta e um veículo de memória viva, feito para mostrar que os povos indígenas existem no Brasil, apesar da violência. Sueli compartilha sua experiência de liderança do movimento de mais de 100 famílias pela retomada da Aldeia Escola Floresta, território Maxakali.
Ian Wapichana, cantor, músico, rapper e produtor audiovisual, e Ge Viana, artista visual do povo Anapuru Muipurá, que está expondo na Bienal de São Paulo de 2025 integram esta série. Ian compartilha como a retomada vem pela arte e a canalização da raiva em letras e canções de crítica contra colonial. Ge Viana discute a busca por um novo corpo de imagem para o seu povo, desejando o descanso das imagens do período colonial, e a desorganização da documentação histórica.
Joseca Yanomami, artista e desenhista da região do Demini, divisa entre os estados do Amazonas e de Roraima encerra os episódios desta série. Ele nos conta que sua obra é a própria luta do povo Yanomami, pois ao verem os desenhos, as pessoas devem acordar e abrir o pensamento para defender a Terra Floresta. Discutimos como o criador, Omama, foi o primeiro artista, e como o corpo “limpo” (puro, sem poluição) é essencial para ver os espíritos e sonhar claramente.
Sobre a equipe do Podcast:
Brisa de la Cordillera, mais conhecida como Brisa Flow, curadora e apresentadora de Nhexyrõ, é cantora, musicista, compositora, poeta, performer, produtora musical, ativista do povo Mapuche e uma das principais expoentes do futurismo indígena no Brasil. Caminhante em descolamento que cria arte, som e imagem para desvincular das amarras coloniais. IdjahureTerena, pertence aos povos Terena e Kadiwel, também curador e apresentador do podcast é escritor, editor, poeta, tradutor e antropólogo. Em sua dissertação de mestrado retratou a trajetória de vida de seu pai, Macsuara Kadiwel (2021), primeiro ator indígena no cinema brasileiro, e um dos fundadores do Núcleo de Cultura da União das Nações Indígenas e da Aliança dos Povos da Floresta. Desde 2016 é correspondente da Rádio Yandê, a primeira web rádio indígena no Brasil. É editor da coleção Tembetá (Azougue Editorial/Revistas de Cultura), projeto editorial que teve o objetivo de visibilizar a trajetória e o pensamento de diferentes personalidades do movimento indígena no Brasil; e atualmente do catálogo da exposição de artes indígenas Véroa: Nós sabemos, sob curadoria de Naine Terena, na Pinacoteca de São Paulo.
O design de áudio é assinado por Oderiê, artista não-binária, indígena do povo Charrúa, crescida em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul e residente em Salvador, Bahia. Cria do encontro do pampa gaúcho com a mata atlântica, é uma “tatu-araucária” que une ancestralidade e vivência urbana. Ao longo de suas andanças, sua obra passou unir a música, o audiovisual e o artesanato, desmistificando estereótipos atribuídos aos corpos indígenas e dissidentes e propondo novos horizontes que dialogam com resistência, potência coletiva e libertação. Tem discos lançados e importantes participações em festivais, como o Circuito Orelhas, em 2022, o Festival Tum Tum de Verão e o Noite dos Museus, em 2023, o Circuito de Música Afro e Indígena Contemporânea em 2024 e o Morrostock e o Festival Suíça Bahiana em
A identidade visual do projeto é de Gustavo Caboco, do povo Wapichana, que atua nas áreas das artes visuais, da literatura e do cinema. Sua produção se desdobra em múltiplas linguagens, como desenho, pintura, têxtil, instalação, performance, fotografia, vídeo, som e texto, constituindo dispositivos para reflexão sobre os deslocamentos dos corpos indígenas, os processos de (re)territorialização e a produção da memória. Sua formação artística teve origem no ateliê de costura de sua mãe, Lucilene Wapichana, que sempre contou a ele sobre a família, a paisagem e as lembranças da maloca do Canauanim, em Roraima, de onde foi levada muito cedo.
Mishta, nome em sânscrito que significa “doce”, é poeta, artista visual e produtora cultural, co-autora da coleção de livretos artesanais Poemas Insones, Silvo do Silêncio e Mais Profético que Poético, co-fundadora da produtora Sem Início Sem Fim que surge através da vivência com Manatit em Roraima em processos colaborativos e afetivos com o artista Jaider Esbell. Mishta assina a direção de produção do projeto e tem no currículo o trabalho como arte-educadora, animações, performances e pesquisas aprofundadas sobre a arte indígena contemporânea. Manatit, nome em sânscrito que significa “além da mente”, é poeta, produtor e gestor cultural. Assina com Mishta a autoria dos livros já citados e da produtora Sem Início Sem Fim, bem como o podcast Nhexyrõ. É “, ator no espetáculo Atentados: operação onde estão os porcos?, arte educador no projeto Protocolo Babel, performer e produtor do curso online Ayvu é fala e é amor também, de mbyá guarani.
A trilha sonora do programa é original, um sample criado por Kevin Brezolin a partir de uma captação de áudio na Tekoa Guaviraty Porã, aldeia Mbyá em Santa Maria. O podcast é produzido pela Sem Início Sem Fim, fundada em 2017 como uma produtora de eventos culturais e editora de livros de poesia, que atua em processos colaborativos com a arte indígena contemporânea, e pela Outro Acontecimento, produtora de arte com viés autoral e feminista, que investiga a pintura com pigmentação natural e atua na difusão da arte indígena contemporânea
Ficha técnica:
Curadoria e entrevistas: Brisa Flow e Idjahure Terena
Identidade visual: Gustavo Caboco
Design de áudio e locução: Oderiê
Produção: Mishta e Manatit
NHEXYRÕ – Podcast
Disponível no Spotify e Youtube
1. Idjahure Terena conversa com Zahy Tentehar
2. Idjahure Terena conversa com Fernanda Kaingang
3. Brisa Flow conversa com Olinda Tupinambá
4. Brisa Flow conversa com Yanaki Herrera
5. Brisa Flow conversa com Oderie Chayúa e Mônica Michelena
6. Brisa Flow e Idjahure Terena conversam com Elvira Espejo
7. Idjahure Terena conversa com Isaías Miliano
8. Brisa Flow e Idjahure Terena conversam com Sueli Maxakali
9. Brisa Flow e Idjahure Terena conversam com Ian Wapichana e Ge Viana
10. Idjahure Terena conversa com Joseca Ianomami
Nhexyrõ é uma realização das produtoras Sem Início Sem Fim e Outro Acontecimento em parceria com o Governo Federal e o financiamento do Pró Cultura RS através do Plano Nacional Aldir Blanc (PNAB)
Redes:
https://www.youtube.com/@nhexyro
https://www.instagram.com/nhexyro/