O agronegócio brasileiro atravessa um ciclo de transformação marcado por ambientes regulatórios mais exigentes, pela contínua transformação digital e por inúmeros desafios relacionados à gestão dos riscos climáticos. De acordo com estudo apresentado pelo Evermonte Institute na 48ª Expointer, em Esteio (RS), esse contexto tem impulsionado a busca por executivos em nível de Diretoria, reforçando a necessidade de estruturas de governança mais técnicas e profissionalizadas para enfrentar as transformações que estão em curso.

 

“As empresas do agro estão buscando lideranças preparadas para atuar em um ambiente de maior complexidade e competitividade”, destaca Guilherme Neves, sócio da Evermonte. Entre as funções mais demandadas, segundo o estudo, estão a Diretoria de Operações Agrícolas; a Diretoria de Exportação e Inteligência de Mercado; o cargo de CFO e a posição de Head de Sustentabilidade e ESG.

A Diretoria de Operações Agrícolas concentra-se no planejamento e na escalabilidade da produção, exigindo experiência em agricultura de precisão, gestão de grandes áreas e integração com cadeias de suprimentos, sempre com foco em eficiência e margens.

 

Já a Diretoria de Exportação e Inteligência de Mercado desempenha papel estratégico na abertura e consolidação de mercados internacionais, especialmente em cadeias impactadas por novas regulações, demandando sólida vivência em comércio exterior, análise de risco-país e compliance global.

O CFO, por sua vez, assume relevância crescente em um contexto de margens pressionadas e financiamento complexo, sendo valorizado o executivo capaz de estruturar operações financeiras, gerir crédito rural e manter relacionamento próximo com bancos, fundos e investidores.

Por fim, o Head de Sustentabilidade e ESG precisa dominar métricas socioambientais e certificações internacionais, com a missão de inserir a agenda ESG no centro das decisões corporativas e transformar rastreabilidade e due diligence em acesso a mercados e custo de capital mais competitivo.

Principais competências

 

Com base nos dados analisados ao longo do primeiro semestre de 2025, o Evermonte Institute também identificou cinco competências que se destacam entre os perfis executivos mais demandados no setor agroindustrial – gestão de risco e adaptação climática; visão integrada de cadeia produtiva; capacidade de inovação aplicada; fluência socioambiental e regulatória; e habilidade de gestão em contextos multigeracionais e multiculturais.

 

A gestão de risco e adaptação climática ganhou protagonismo diante da recorrência de eventos extremos, como secas severas e enchentes que afetaram diversas regiões do país. Nesse cenário, executivos capazes de interpretar cenários complexos, estruturar planos de contingência e mitigar perdas tornaram-se altamente valorizados pelas organizações.

 

Na sequência, destaca-se a visão integrada de cadeia produtiva, uma competência essencial em cadeias cada vez mais expostas à rastreabilidade, à regulação internacional e à pressão logística. Líderes com essa visão ampliada compreendem o ciclo completo — do campo à exportação — e tomam decisões mais estratégicas e alinhadas à sustentabilidade do negócio.

 

A capacidade de inovação aplicada surge como a terceira competência mais demandada, indo além da digitalização básica. Ganha destaque quem consegue implementar, de forma prática, soluções como automação, inteligência artificial e análise preditiva, com impacto mensurável nos resultados operacionais.

Já a fluência socioambiental e regulatória tornou-se indispensável em um contexto em que a agenda ESG se consolida como critério decisivo para acesso a mercados e financiamentos. Os executivos mais preparados são aqueles que conseguem traduzir exigências legais em métricas operacionais e projetos factíveis, alinhando performance e responsabilidade.

 

Por fim, a habilidade de gestão em contextos multigeracionais e multiculturais se mostra crucial frente às sucessões familiares em curso, à entrada de novos perfis no setor e à expansão de operações multinacionais. Nesses ambientes diversos, lideranças eficazes são aquelas que sabem comunicar decisões com clareza, integrar diferentes visões e adaptar-se a distintas culturas organizacionais.

“Essas competências refletem uma mudança no modelo de liderança do agronegócio. Mais do que perfis centrados exclusivamente no conhecimento técnico ou na experiência setorial, cresce a valorização de executivos com preparo transversal, capazes de conectar estratégia, operação, sustentabilidade e tecnologia”, ressalta Guilherme Neves.