Afinal… para que estudar, não é mesmo? Temos o Google, que responde em segundos e, dizem, até substitui médicos.

 

Para que dicionário, se um tradutor online resolve tudo — de palavras estrangeiras até expressões que nunca usamos?

 

Para que ler, se as inteligências artificiais já resumem livros em poucas linhas, prontas para caber no bolso da nossa pressa?

 

Sempre acreditei que a tecnologia, usada com sabedoria, nos levaria a um futuro melhor. Mas o que vejo é diferente: estamos trocando profundidade por conveniência. E, o mais assustador, fazemos isso quase automaticamente, como quem escolhe um doce sem nem pensar na fome de verdade.

 

Hoje, a escolha entre um vídeo curto e um capítulo de um livro não parece grande coisa. Mas essa escolha, repetida dia após dia, forma um hábito — e o hábito molda quem somos. É treinar a mente a preferir o raso ao profundo, o imediato ao duradouro.

 

Vivemos numa era de estímulos constantes, onde cada notificação é uma pequena descarga de dopamina. Nossa mente, viciada nesse ciclo, rejeita tudo que exige pausa, reflexão ou silêncio. Por isso, para muitos, ler um livro parece cansativo — não porque a leitura mudou, mas porque nós mudamos.

 

Não é “coisa de jovem”, nem “problema de adulto ocupado”. É um vício social, normalizado e reforçado todos os dias pelas ferramentas que poderiam nos tornar mais inteligentes.

 

Estamos indo para um mundo em que tudo que ultrapassa 60 segundos parece um fardo. Onde a paciência é artigo de luxo e qualquer pausa é confundida com tédio. Um mundo em que o esforço é evitado como doença, e a recompensa precisa vir em pequenas doses instantâneas.

 

Fragmentos substituem livros. Curtidas substituem diálogos. Títulos chamativos substituem debates.

 

A tecnologia pode ser ponte, biblioteca, escola e lar para mentes curiosas. Mas, se não a utilizarmos com intenção e cuidado, ela será também a pá que cava a cova onde enterraremos nossa capacidade de pensar de forma crítica e criativa.

 

Há um caminho para reverter isso. Não é rápido. Não é fácil. Mas é simples: leia livros.

 

Não resumos. Não manchetes. Não textos picados que cabem na palma da mão.

 

Livros exigem tempo, atenção e paciência — e é aí que está seu poder. Eles treinam a mente para pensar com clareza, fazer conexões e questionar. Preservam a cultura e o conhecimento acumulado por séculos. Cultivam empatia.

 

Trocar livros por migalhas de informação é como trocar uma bússola por um pedaço de papel com uma seta desenhada: pode parecer suficiente, mas nos deixa à deriva.

 

Leia. Nem que seja uma página por dia.

Leia para desacelerar o tempo dentro de você.

Leia para resgatar a educação que estamos perdendo.

 

Chegamos a um ponto em que a pressa e a superficialidade ameaçam substituir o pensamento profundo. Mas a solução existe: exige coragem para remar contra a maré. Exige abandonar, por alguns minutos ao dia, as distrações rápidas e mergulhar no que realmente alimenta a mente e a alma.

 

Ler é resistir. Ler é recuperar o que estamos deixando escapar. Ler é escolher um caminho diferente.

 

Não deixe o mundo vencer você.

 

Sobre Roberto T. G. Rodrigues

 

Roberto é escritor, mestre de RPG e criador do universo de A Era de Ouro da Magia. Nascido no Rio de Janeiro e criado no Rio Grande do Sul, mescla vivências lúdicas e literárias em tramas que falam de humanidade, escolhas e conflitos morais. É autor de Golandar, o Paladino, de Emma, a Curandeira e de Fenda Esquecida.