Vários países do mundo celebram o prato milenar da Coreia, criado há 3 mil anos
Prato de entrada, aperitivo, acompanhamento… se existe algo onipresente na mesa dos coreanos e seus descendentes é o Kimchi. Prato milenar da Coreia, nasceu no século XII como uma forma de preservar os vegetais durante os invernos rigorosos, em uma época em que a escassez de alimentos ameaçava comunidades inteiras daquele país.
Tanto é que, nos dias de hoje é símbolo da história e da cultura do povo, sendo dono de uma versatilidade sem igual e com inúmeras formas de servir e temperar. O prato está presente em todas as refeições coreanas, não importa o horário ou ocasião.
A união da importância histórica com o sabor fez o Kimchi ganhar o mundo. Em vários países, a data de 22 de novembro celebra o prato no conhecido “Dia do Kimchi”. Aqui no Brasil, a Lei que inclui a celebração no Calendário de Eventos da Cidade de São Paulo foi aprovada recentemente, em junho desse ano, como marco da comemoração aos 60 anos da imigração coreana para o Brasil.
Em São Paulo, local onde reside a maior comunidade coreana da América Latina, a data será comemorada em eventos realizados na cidade, a exemplo do Bom Retiro Fest – Especial Dia do Kimchi marcado para este sábado (18), das 10h às 17h, na Rua Cônego Martins, próxima a estação da Luz
Versatilidade
Suzana Cho, vice-presidente da Associação de Gastronomia Coreana no Brasil, explica que a variedade dos pratos impressiona. Segundo ela, estima-se que existem cerca de 200 tipos de Kimchi na Coreia, variando de acordo com os ingredientes principais, as regiões e as estações do ano. Cada família também tem sua tradição e receita.
“O Kimchi é um testemunho da determinação do povo coreano para enfrentar desafios. Para nós, uma refeição sem ele fica incompleta. Apesar da versatilidade, ainda sim ele é servido em todas as mesas mantendo seus valores originais”, explica Suzana, que chefia o Seok Joung Restaurante, no Bom Retiro.
Hoje em dia, o Kimchi pronto pode ser encontrado em mercearias e mercados coreanos e orientais de todo o mundo, incluindo no Brasil. Em São Paulo, existem mercearias especializadas no prato, principalmente da região do Bom Retiro. Segundo Adriana Ha, proprietária de um dos maiores mercados coreanos do bairro e que tem também uma loja virtual com entrega nacional, alega que além da procura pela conserva já pronta, muitas pessoas se interessam pelo preparo artesanal.
A procura pelos condimentos e ingredientes bases do Kimchi por pessoas não coreanas, inclusive, aumentou muito. “Costumamos receber pedidos do Brasil todo por esses ingredientes, para reproduzir em casa”, afirma Adriana.
Ingredientes e pratos criativos
A receita consiste em uma conserva fermentada de sabor forte e apimentado, que usa normalmente a acelga como base, mas também possui variações como o nabo (KakTugui Kimchi), pepino (Oí Kimchi), cebolinha (Pah Kimchi), folhas de mostarda (Gat Kimchi) ou até a sua versão sem pimenta, o DongChimi.
O ingrediente principal é o gochugaru (pimenta em pó coreana), que contribui para o processo de fermentação. Já o tempero é chamado de so 소 ou sog 속. Os demais ingredientes podem variar por região ou por receita de família, mas seu sabor é comumente moldado por ingredientes como alho, gengibre, cebola, cebolinha, temperos à base de peixe, pasta de amido, frutos do mar, entre outros.
Apesar de ser servido normalmente como um acompanhamento, o Kimchi também pode ser a estrela de pratos criativos como Kimchi Tigue (caldeirada); Kimchi Bokum Bap (risoto de Kimchi); Kimchi Jon (panqueca de kimchi), Kimchi Mandu (Gyoza rechado de Kimchi), Kimchi Udon (Kimchi frito com macarrão de udon) e muito mais.
Priscila Jung, filha de coreanos nascida no Brasil, é influenciadora e cozinheira, e dedica parte dos seus dias a ensinar por meio de cursos essa arte gastronômica milenar. Para ela, é uma forma de honrar as raízes da família e os ensinamentos da avó.
Segundo Priscila, não existe uma receita certa para o que seria o Kimchi mais tradicional. Em uma refeição tradicional coreana, normalmente o que se tem é um arroz glutinoso, Kimchi de Acelga, banchans (acompanhamentos), guk (sopa) e talvez alguma proteína. “Nos tempos atuais, nem sempre esse modelo é seguido, mas antigamente a quantidade de acompanhamentos indicava a classe social que você pertencia”, conta Priscila.
Benefícios para a Saúde
Além de um prato saboroso, estamos falando de um alimento rico em benefícios para a saúde. O fermentado coreano é uma excelente fonte de probióticos, que promove a saúde do sistema digestivo, auxilia na absorção de nutrientes e fortalece o sistema imunológico, ajudando a prevenir infecções e doenças. Além disso, a capsaicina (composto que dá ao Kimchi seu sabor picante) tem demonstrado benefícios na redução do risco de doenças cardíacas e na regulação da pressão arterial.
Além disso, é um alimento de baixas calorias. Sua riqueza em fibras e nutrientes essenciais, como vitaminas A, B e C, cálcio e ferro, o torna um componente valioso de uma dieta equilibrada. Seus compostos ativos também demonstraram propriedades antioxidantes, o que pode ajudar a proteger as células do corpo contra danos causados pelos radicais livres.
Mais sobre a história
Quando na Coreia ainda não existiam geladeiras, os ancestrais se juntavam com as famílias da comunidade para fazer quilos de Kimchi ao final do outono. Após o preparo, colocavam em grandes jarros de barro e enterravam no chão, para que pudessem consumir as verduras durante o inverno. Essa prática de preparo ficou conhecida como “Kimjang” e é ainda mantida viva, sendo reconhecida em 2013 pela UNESCO como patrimônio cultural imaterial. “Geladeiras especiais para Kimchi foram criadas na atualidade. Há também kits de Kimjang para aqueles que moram sozinhos ou em apartamentos e desejam fazer esse processo artesanal”, celebra Suzana.
UPPER PR – Agencia de Relaciones Públicas