“A Resistência de Curi”, de Tatieli Sperry e Alessandra Rech, será lançado em 2026

 

Ancestralidade, beleza e preservação caminham juntas quando o assunto é uma das árvores mais antigas do continente. A araucária, símbolo ecológico e cultural do Sul do Brasil, é o tema central do fotolivro “A Resistência de Curi”, em fase de produção pela fotógrafa Tatieli Sperry e pela jornalista Alessandra Rech. A obra pretende registrar a presença dos pinheiros em diversas paisagens de Caxias do Sul, com atenção especial para os cenários urbanos. O lançamento está previsto para 2026.

 

A intenção da dupla é valorizar, em imagens e palavras, a presença marcante da araucária na Serra Gaúcha, não apenas como espécie ameaçada, mas também como patrimônio natural e cultural. “Curi”, termo utilizado para se referir ao pinheiro no título da obra, é uma palavra de origem tupi, o que reforça a importância dos povos originários em saberes fundamentais à preservação ambiental.

 

“A ideia para o projeto nasceu da minha vivência cotidiana com as araucárias espalhadas por bairros e distritos. Ao observar essas árvores imponentes, muitas vezes isoladas ou resistindo em meio à expansão imobiliária e agrícola, senti a necessidade de registrar sua presença como símbolo de resistência”, conta Tatieli.

 

A pesquisa inicial, já em andamento, prevê o levantamento de exemplares representativos na área urbana de Caxias do Sul (centro e periferia), além de pelo menos um em cada distrito (Criúva, Fazenda Souza, Santa Lúcia do Piaí, Vila Cristina, Vila Oliva, Vila Seca) e região administrativa do município (Ana Rech, Desvio Rizzo, Forqueta, Galópolis). Os registros colocarão em diálogo o contexto em que as árvores se encontram e o fator humano a elas atrelado, seja na preservação ou no descaso.

 

O projeto “A Resistência de Curi” conta com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura – Edital 230/2024 – PNAB (Lei nº 14.399/2022), seleção de projetos culturais dos diversos segmentos artísticos.

 

 

 

Ligação afetiva e participação da comunidade

 

Passado e presente se confundem não apenas na história das árvores que resistem ao tempo, mas também nas trajetórias de vida das autoras. “As araucárias me fazem lembrar da minha família, dos caminhos percorridos no interior e das tardes frias. Fotografá-las é também um gesto de cuidado e de memória, uma forma de devolver em imagens aquilo que elas me ofereceram em afetos”, reflete Tatieli.

 

O interior também é o cenário das memórias de Alessandra. “Na infância, eu passava as tardes de sábado em uma pequena chácara repleta de pinheiros com meus avós paternos e família. Ali eu observava a colheita do pinhão e o cuidado com essas majestosas árvores, muitas centenárias. Meu pai plantou algumas por ocasião do meu nascimento, tornando-as um marco temporal e reforçando esse vínculo”, recorda a jornalista.

 

Tendo em vista esse cenário de vínculos afetivos e identitários das araucárias com a Serra Gaúcha, a dupla de autoras convida a comunidade a participar da construção do fotolivro. Moradores de Caxias do Sul podem enviar sugestões de pinheiros que resistem à ação humana. O contato pode ser feito por meio de mensagem inbox nos perfis do Instagram @tatieli_sperry ou @_alessandra.rech, até o dia 10 de novembro.

 

Sobre as araucárias

 

Com sua origem há mais de 200 milhões de anos, desde que os continentes americano e africano eram unidos, a araucária, nome popular dado à árvore da espécie Araucaria angustifolia, se disseminou na América do Sul da Argentina às terras mais altas do Nordeste brasileiro. Também é popularmente conhecida como Curi, palavra de origem tupi, ou Pinheiro-do-Paraná, Pinheiro-brasileiro, Pinheiro-Caiová, Pinheiro das-Missões e Pinheiro-São-José.

 

Esse tipo de vegetação pode medir de 20 a 50 metros de altura, com sua copa voltada para o céu, tronco cilíndrico e reto. Apesar da permanência por todo esse tempo, hoje se encontra na lista de árvores em extinção. Atualmente, restam apenas 3% do total original desta formação pelo mundo.