Com presenças internacionais, evento discutiu como líderes podem desenvolver habilidades integrando conscientização à gestão

 

Na noite de 7 de novembro, um dos principais palcos culturais do Rio Grande do Sul, o Teatro da OSPA, deu espaço para um debate sobre a liderança consciente. Duas das mais relevantes referências no assunto, Nilima Bhat e Bernardo Toro, compartilharam experiências e trouxeram suas perspectivas sobre o papel dos líderes no renascimento pós-crise.

 

O evento “CHAMA – Um Chamado Para a Liderança Consciente”, promovido pela Sonata Brasil e pela filial regional do Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul, contou com a participação de mais de 700 pessoas.

 

“Nesta noite, junto destes dois grandes nomes que são verdadeiras referências no assunto e tanto nos inspiram, queremos refletir sobre uma nova forma de liderar, uma forma mais humana que nos conecte com nossas raízes espirituais”, afirmou Soraia Schutel, cofundadora da Sonata Brasil. “E nada melhor do que estarmos nesse templo da cultura gaúcha, pois a arte se faz necessária, ainda mais nestes tempos desafiadores. Ela é a ferramenta para ativar a nossa sensibilidade, que é tão importante para todos e ainda mais para os líderes”, complementou.

 

Ética do cuidado

 

Para iniciar a noite, o filósofo colombiano Bernardo Toro abordou a importância da Ética do Cuidado. “O cuidado tem uma dupla função: prevenir danos futuros e reparar os passados”, explicou o palestrante. Toro destacou o autocuidado como a primeira e mais importante forma de cuidar e explicou que só é possível praticá-lo através do autoconhecimento.

 

“Estamos numa cultura em que alguém de fora nos diz como viver e aceitamos. Entretanto, o cuidado com nós mesmos nos convida justamente a olhar para dentro e questionar quem somos, como queremos viver e quem vai nos acompanhar. Dessa forma, o autoconhecimento produz liberdade. E o cuidado é autoconhecimento”, explicou.

 

Após cuidar de si mesmo, o próximo passo é cuidar dos outros. E aqui, segundo Toro, a palavra-chave é espiritualidade. “Que é a capacidade de diminuir a dor dos outros. Um país sério, é um país espiritual. O Ministério da Saúde existe para diminuir a dor das doenças”, exemplificou. O filósofo explicou que o cuidado com os outros vem também através dos vínculos emocionais. “Uma das grandes tarefas deste cuidado é preparar uma geração com vínculos emocionais sadios, ou seja, capazes de compartilhar suas emoções, sentir juntos”, disse.

 

Por fim, Toro propôs uma reflexão: “O grande projeto de cuidado para uma sociedade é que todos os bens públicos sejam iguais para todos”. Para o filósofo colombiano, essa busca pela equidade traz as “transações do tipo ganha-ganha”, que também são uma importante forma de cuidar, pois se tratam de relações em que nenhum dos envolvidos sai perdendo.

 

A jornada heróica

 

“Não desperdice uma boa crise”. Foi com este convite que a professora e escritora indiana Nilima Bhat iniciou sua caminhada pelos conceitos da jornada do herói, vivida constantemente pelos líderes contemporâneos. “O futuro é para quem tem alma de herói”, enfatizou.

 

Ela começou sua palestra trazendo os quatro estágios da jornada heróica. O primeiro, é o surgimento de uma crise, o momento em que essa trajetória inicia, é “disparada”. O segundo passo, é o trauma trazido por este problema. “A crise nos leva para um mundo desconhecido e por isso, até encontrarmos o caminho da resolução, ficamos perdidos”, explica Nilima.

 

A terceira etapa é a transformação, seguida pela quarta e última, o dom. “Ao superarmos a crise, ao longo da jornada heróica, descobrimos nossa grandeza interna, o que nos transforma. E a finalização da jornada, o dom, é quando compartilhamos todas as lições aprendidas ao longo do caminho com o mundo”, esclarece a palestrante. “Você faz a jornada porque a vida quer algo de você”, ressaltou.

 

Nilima convidou o público a recriar suas histórias através da perspectiva da jornada do herói, especialmente as lideranças. “Elas devem se questionar quais capacidades foram adquiridas com as experiências e o que elas estão oferecendo de melhor para o mundo após um desafio superado. Líderes precisam compartilhar histórias inspiradoras”, destacou.

 

Segundo a escritora indiana, as mulheres fazem uma jornada diferente dos homens. E vem daí o conceito da jornada da heroína. Ela também se inicia com os processos de crise e trauma, mas de forma específica, trazendo três crenças tóxicas sobre as mulheres: que são inferiores aos homens; que são dependentes de homens e que são incompletas sem homens.

 

“Os próprios contos de fadas famosos que conhecemos desempoderam as mulheres, que ali, só encontram plenitude e felicidade através de uma ação do outro. Como ser soberana se precisa do outro para ser completa? É preciso matar o dragão da inferioridade feminina”, alertou.

 

Ainda dentro da jornada da heroína, há a transformação, quando a mulher encontra as qualidades necessárias dentro de si mesma para superar os desafios, e a dádiva, quando compartilha a sua sabedoria com outras que ainda vão trilhar este caminho, promovendo o sentimento de liberdade e pertencimento.

 

Nilima finalizou destacando que dentro do processo da jornada de todos nós, há herói e heroína, independente de gênero. “Para sermos pessoas plenas, temos que harmonizar as qualidades masculinas e femininas dentro de nós, trazendo as potências de cada uma. As jornadas muitas vezes são opostas, mas levam para o mesmo lugar”.

 

A noite contou ainda com as atrações artísticas de Luiza Barbosa, finalista do The Voice Kids 2019 e a Orquestra Jovem do Theatro São Pedro, que encantaram a todos com uma emocionante apresentação.

 

O evento CHAMA teve patrocínio de Instituto Mari Johannpeter, Sicredi Pioneira, Inspire Global Group, Arquipélago, ACI Encantado e ACI Horizontina.