A 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, que acontece de 31 de outubro a 16 de novembro, promete ser uma das edições mais significativas de sua história. Realizada na tradicional Praça da Alfândega, no coração da capital gaúcha, a feira reafirma seu papel como um dos maiores eventos literários a céu aberto da América Latina — um espaço que une leitura, cultura, diversidade e cidadania.

 

Com o tema “Beba desta fonte”, a nova edição convida o público a reencontrar na literatura um refúgio de inspiração e sabedoria. O lema simboliza a ideia de retorno às origens da leitura, da curiosidade e do diálogo entre autor e leitor, ressaltando o poder transformador dos livros em tempos de mudanças culturais e tecnológicas.

 

A patrona deste ano é a escritora e cronista gaúcha Martha Medeiros, uma das autoras mais lidas do país. Celebrando quatro décadas de carreira literária, ela representa o espírito da literatura que nasce da vida cotidiana e se transforma em arte. Ao aceitar o convite, Martha destacou a emoção de ser homenageada pela feira de sua cidade: “Não posso imaginar celebração melhor do que ser patrona da Feira do Livro de Porto Alegre. Ela é o coração cultural da cidade.” Sua escolha reflete o reconhecimento a uma voz feminina que, com leveza e profundidade, conecta o público ao prazer da leitura e ao exercício da reflexão.

 

Organizada pela Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), a feira reunirá mais de 400 autores convidados, entre nomes internacionais, nacionais e locais — cerca de 350 escritores gaúchos. A programação contará com sessões de autógrafos, debates, oficinas, saraus, contações de histórias e mesas-redondas, distribuídas em diferentes áreas da praça. Além disso, o evento mantém sua característica inclusiva: é gratuito, ao ar livre e acessível a todos os públicos, o que o torna um patrimônio cultural e afetivo de Porto Alegre.

 

Mais do que um espaço de comercialização de livros, a feira é um ponto de encontro entre gerações, escolas e comunidades. Neste ano, a rede estadual de ensino foi convidada a participar com o projeto “Emoções que ensinam, livros que transformam”, incentivando o envolvimento de professores e estudantes com a leitura e com a produção literária local. Esse diálogo com a educação reforça o papel da feira como ferramenta de formação cidadã e de estímulo à imaginação — valores que sustentam seu sucesso há mais de sete décadas.

 

Os números também refletem esse vigor. Em 2024, a feira registrou crescimento de 14% nas vendas, ultrapassando 240 mil livros comercializados e reafirmando a retomada do mercado editorial no Rio Grande do Sul. A expectativa para 2025 é de um público ainda maior, impulsionado pela força simbólica da patrona e pelo prestígio que o evento carrega como patrimônio imaterial da cidade.

 

Apesar do otimismo, os organizadores reconhecem os desafios. O formato ao ar livre depende das condições climáticas — e o tempo, sempre imprevisível, é um fator que pode influenciar a experiência do visitante. Além disso, a feira precisa competir com outras formas de consumo cultural, especialmente em um cenário dominado pelo digital. No entanto, a força simbólica de encontrar livros, autores e leitores em um mesmo espaço físico ainda se mostra insubstituível.

 

Entre as novidades, o público poderá acompanhar o “Feiracast”, primeiro podcast oficial da Feira do Livro de Porto Alegre, que levará entrevistas, debates e bastidores para o formato digital, ampliando o alcance do evento. Também estão previstas ações voltadas à sustentabilidade, acessibilidade e valorização dos pequenos editores gaúchos, que têm na feira uma vitrine fundamental para divulgar suas obras.

 

Ao longo de sete décadas, a Feira do Livro se consolidou como uma das expressões culturais mais autênticas de Porto Alegre. Desde sua primeira edição, em 1955, o evento defende a democratização da leitura e o acesso gratuito à cultura — princípios que o tornaram parte do imaginário afetivo da cidade. Mais do que uma tradição, a feira é um símbolo de resistência cultural, que sobrevive às transformações do tempo mantendo o mesmo propósito: aproximar pessoas através dos livros.

 

Em 2025, a mensagem é clara: ler continua sendo um ato de liberdade, empatia e conhecimento. Ao convidar o público a “beber desta fonte”, a Feira do Livro de Porto Alegre reafirma a literatura como uma força vital — uma água simbólica que alimenta a imaginação e a humanidade.

 

Entre estandes, palavras e encontros, a 71ª edição promete não apenas celebrar a literatura, mas também renovar o vínculo entre a cidade e seus leitores, provando que, mesmo em meio às tempestades do mundo moderno, a sede de leitura continua viva.