Meteorologista afirma que precisamos nos preparar para evitar futura tragédia

Informação e tempo hábil para que a população possa se organizar é fundamental em casos de eventos climáticos extremos. Esse foi um dos alertas feitos pela meteorologista Caarem Studzinski, especialista em riscos climáticos e planejamento de resiliência, durante sua palestra no Summit em Mudanças Climáticas realizado neste final de semana, no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. Aliás, a especialista encontrou ressonância em todos os acadêmicos que participaram do evento que são unânimes em destacar que existe, hoje, muita desinformação e consequente falta de comunicação efetiva dos desastres ambientais, diferente do setor da saúde – comprovado, por exemplo, com o que ocorreu durante a pandemia do Covid 19.

A meteorologista destacou que um evento com a magnitude do registrado em 2024, poderá ocorrer novamente. No entanto, ela acredita que haverá prazo suficiente para planos de resiliência e aumento da capacidade de previsibilidade. Conforme Caarem, embora o El Niño tenha contribuído com a calamidade, já tivemos outros mais fortes registrados em anos anteriores – como em 1982/83 e 2015/16. “Nem todo El Niño provoca um grande desastre no Sul”. Mas, ele associado a outras oscilações planetárias, resultou nas enchentes no Rio Grande do Sul de 2024, explica a meteorologista. Ela estima que os fenômenos como esse continuarão acontecendo. Porém, para essa combinação de fatores de 2024 espera-se um ciclo de pelo menos uma década.

Neste momento, estamos vivendo o ciclo hidrológico da estiagem. Aliás, a especialista destaca que essa condição deve ser a grande preocupação, pois já são 200 municípios gaúchos em situação de emergência devido à falta de chuvas recorrentes. “Em dezembro do ano passado, já se alertava que essa estiagem pode ser longa”, avalia Caarem ao pontuar que as mudanças climáticas levam a cada vez menos chuvas durante o ano, porém, com maior concentração de volume.

Carta de Porto Alegre chama à ação

Ao final do evento que reuniu os maiores especialistas da academia brasileira, a reitora da UFRGS, Márcia Barbosa, leu a Carta de Porto Alegre, um documento que propõe diretrizes para o enfrentamento da crise climática com justiça social, responsabilidade ambiental e compromisso coletivo. No documento, a comunidade acadêmica destaca: O que preocupa é a repetição das tragédias aliada à ação insuficiente dos gestores. “Chama a atenção o fato de que, embora a ciência venha produzindo informações, gerando conhecimento e disseminando alertas, esse avanço científico não tem sido apropriado pela população”, destaca a Carta como um chamamento à ação: “O tempo de uma observação contemplativa das mudanças climáticas e dos desastres já passou”, alerta o documento endossado pela comunidade científica.