Reunindo artistas brasileiros e franceses, a mostra conecta o rio Charente, na França, e o sistema Tietê-Pinheiros, em São Paulo, para discutir as águas como elemento vital, político e simbólico.

 

O Ministério da Cultura, o Nubank e o Instituto Tomie Ohtake apresentam, de 14 de novembro de 2025 a 8 de março de 2026, a exposição Águas subterrâneas: narrativas de confluência, correalizada pelo Instituto Tomie Ohtake, pelo Institut Français e pelo Frac Poitou-Charentes. Integrante da Temporada França-Brasil, a mostra conta com o patrocínio do Nubank, Mantenedor Institucional do Instituto Tomie Ohtake, além do apoio do Instituto Guimarães Rosa, do Ministério das Relações Exteriores e da Empresa Gestora de Ativos (Emgea) do Governo Federal, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. Realizada primeiro na França e depois no Brasil, esta exposição coletiva em duas etapas reúne múltiplos olhares de artistas contemporâneos sobre os cursos de água doce e os relatos culturais, históricos e ambientais que os atravessam.

 

Curada por Irene Aristizábal (diretora do Frac Poitou-Charentes), Ana Roman (superintendente artística do Instituto Tomie Ohtake) e Catalina Bergues (curadora adjunta), a mostra nasce do encontro simbólico entre o rio Charente, que atravessa a região da Nova-Aquitânia, e o sistema Tietê-Pinheiros, eixo fluvial que estrutura a metrópole paulista. Entre as duas margens, a exposição se transforma a cada etapa, incorporando novas obras, montagens e relações. A curadoria parte da ideia de “confluência” formulada pelo pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos — encontro que soma sem subtrair — para propor a mostra como um campo de escuta e coexistência, em que as águas são entendidas como seres vivos, portadores de direitos e memórias, mas também como testemunhas de passados coloniais e agentes de transformação.

 

A apresentação em São Paulo preserva, em grande medida, o elenco original e realiza uma recomposição com a inclusão de Suzanne Husky, artista da coleção do FRAC Poitou-Charentes. Ancorada no relatório do IPCC (2022), sua apresentação reúne aquarelas e mapas que rastreiam a presença histórica do castor na Europa e seu papel na regulação dos cursos d’água, articulando toponímia, hidrografia e práticas de cuidado ambiental. Minia Biabiany, presente na etapa francesa, não participa desta itinerância, pois seu trabalho está em cartaz na exposição A Terra, o Fogo, a Água e os Ventos, simultânea no Instituto Tomie Ohtake. A obra de Julien Creuzet, inicialmente apresentada no FRAC, desdobra-se em duas novas versões para São Paulo — agora considerando os rios Tietê e Pinheiros — e é ativada em ambas as exposições, sublinhando a contiguidade do pensamento curatorial e institucional entre elas. Se, no FRAC Poitou-Charentes, Creuzet operava a partir de arquivos e desenhos do Charente, em São Paulo volta-se ao próprio rio e aos cursos do Tietê e do Pinheiros, combinando mapas, ícones técnicos e objetos cotidianos numa cartografia poética que evidencia como memória e poder se inscrevem na água e em suas margens.

 

As obras abordam questões ligadas à escassez, à contaminação, às infraestruturas e às possibilidades de reparação. Barbara Kairos, artista de Angoulême, na França, reelabora criticamente a história do “jacaré do Tietê”, transformando um episódio da memória urbana em alerta sobre a política das águas. A também francesa Capucine Vever, que pesquisa a paisagem fluvial e suas camadas coloniais, parte de arquivos e da escuta do rio Garona para aproximar imagem e história.

 

O Coletivo Coletores, fundado na periferia leste de São Paulo, sobrepõe mapas e imagens dos rios paulistanos para reimaginar o direito à água e ao território. Radicado em São Paulo, Daniel de Paula, que no Frac Poitou-Charentes apresentou uma reflexão sobre as estruturas materiais e simbólicas da infraestrutura, desloca agora uma turbina da antiga Usina Henry Borden para a margem do rio Pinheiros, expondo elos entre industrialização e degradação ambiental. Mãe, título do trabalho do artista instalado no Parque Linear Bruno Covas, contou com o apoio da Galeria Yehudi Hollander-Pappi, Brasil Sucatas Ltda, Consórcio Parque Novo Rio Pinheiros e Farah Service. Já o artista mineiro Davi de Jesus do Nascimento, criado às margens do rio São Francisco, desenvolve uma prática ancorada na ancestralidade e nos saberes ribeirinhos, inspirado na carranca — escultura protetora das embarcações do Velho Chico. A mineira Luana Vitra investiga as relações entre corpo e material a partir de elementos como cerâmica, cobre e ferro. Seus trabalhos tensionam o espaço e evocam o ciclo de extração e transformação mineral que marca seu território de origem.

 

O colombiano Marcos Ávila Forero, radicado na França, apresenta um vídeo realizado com comunidades afro-colombianas do rio Atrato, que resgata uma antiga prática de comunicação através do som produzido na superfície da água, transformando-o em composição coletiva. Rastros de Diógenes, artista de Mamanguape, na Paraíba, cria um cosmograma em que cultivo, cura e imaginação climática se entrelaçam em torno de figuras como a Mensageira, a Agricultora e a Curandeira, inspiradas em saberes ancestrais. Já Vitor Cesar e Enrico Rocha, artistas cearenses, reelaboram a sigla do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) em poesia visual e sonora, questionando políticas hídricas e contrapondo a retórica do “combate à seca” à concentração de recursos no semiárido.

 

Ao reunir perspectivas diversas sobre as águas — de seus fluxos subterrâneos às redes políticas que as regulam —, Águas subterrâneas: narrativas de confluências propõe um exercício de atenção aos modos como a água atravessa infraestruturas, corpos e paisagens. Mais do que representar um tema, a exposição cria um espaço de circulação entre histórias, práticas e territórios, onde cada encontro reconfigura o curso comum.

 

Sobre o Frac Poitou-Charentes

 

Os Frac (Fundos Regionais de Arte Contemporânea) compõem uma rede pública nacional de instituições dedicadas à aquisição, preservação e difusão da arte contemporânea em todo o território francês. Financiados conjuntamente pelo Estado e pelas regiões, os Frac têm como missão democratizar o acesso à arte e descentralizar sua presença, aproximando artistas, obras e públicos por meio de exposições, programas educativos, residências e parcerias com escolas, museus e associações locais. Cada Frac desenvolve uma coleção própria, que reflete as tendências e os debates atuais da criação contemporânea, constituindo um dos mais significativos patrimônios públicos de arte da Europa.

 

O Frac Poitou-Charentes é um dos três Fundos Regionais de Arte Contemporânea existentes na região da Nova-Aquitânia, na França. Sua missão é a constituição de uma coleção de arte contemporânea e sua difusão, graças às suas instalações regionais em Angoulême e Linazay, bem como às parcerias locais que estabelece com os atores culturais, sociais, educacionais e as autoridades municipais. Entre exposições, residências de criação, produção, difusão, conservação, documentação das obras, ações de educação artística e cultural, o Frac Poitou-Charentes busca se envolver ao lado dos artistas em todos os aspectos de sua atividade. Suas operações de difusão são acompanhadas de ações de mediação para facilitar e aprofundar o acesso às obras e aos processos criativos contemporâneos. Sua coleção atualmente conta com mais de mil obras. Enriquecida a cada ano com novas aquisições, ela é internacional e representativa dos desenvolvimentos mais recentes na arte contemporânea.

 

Desde 2024, a instituição iniciou uma fase de transição com a chegada de Irene Aristizábal à sua direção. Os eixos de orientação de seu projeto para o Frac Poitou-Charentes, intitulado “Autopoïèse et interdépendance radicale” [Autopoiese e Interdependência Radical], testemunham a vontade de iniciar uma transição ecológica e social, de reposicionar a instituição em seu contexto territorial, colocando os artistas no centro de todas as atividades e dando atenção especial aos contextos rurais. Em diálogo com o tecido local, o projeto abre para mais colaborações e co-criações, reafirma seu compromisso com a cena artística e também carrega uma ambição de projeção nacional e internacional. www.fracpoitoucharentes.com

 

Sobre a Temporada França-Brasil 2025

 

Iniciada por Emmanuel Macron e Luiz Inácio Lula da Silva, a Temporada França-Brasil 2025 marca os 200 anos de relações bilaterais e tem como objetivo fortalecer os laços entre os dois países. Ela se organiza em torno de três grandes temas: Clima e transição ecológica; Diversidade das sociedades e diálogo com a África; Democracia e Estado de Direito. Além desses temas, a Temporada, que ocorrerá de abril a setembro de 2025 na França e de agosto a dezembro de 2025 no Brasil, visa dinamizar a cooperação em áreas como cultura, economia, pesquisa, educação e esporte, com atenção especial à juventude e aos intercâmbios profissionais.

 

A Temporada é organizada e implementada: Para o Brasil: pelo Instituto Guimarães Rosa, sob a supervisão do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Cultura, da Embaixada do Brasil na França e do Comissariado brasileiro, a cargo de Emilio Kalil; Para a França: pelo Instituto Francês, com o apoio do Ministério da Europa e dos Assuntos Exteriores, do Ministério da Cultura, da Embaixada da França no Brasil e do Comissariado francês, a cargo de Anne Louyot.

 

A programação francesa no Brasil recebe o apoio do comitê de patrocinadores presidido por Jean-Pierre Clamadieu, presidente da ENGIE, e composto por: Fundação ENGIE, LVMH, ADEO, JCDecaux, Sanofi, Airbus, CMA CGM, CNP Assurances, L’Oréal, Fundação TotalEnergies, VINCI, BNP Paribas, Carrefour, Vicat e Scor.

 

Serviço:

 

Águas Subterrâneas: narrativas de confluência

 

Pré-abertura: 13 de novembro de 2025, às 19h

 

Em cartaz de 14 de novembro de 2025 a 08 de março de 2026

 

A obra Mãe, de Daniel de Paula, está localizada no Parque Linear Bruno Covas, nas proximidades da Ponte Itapaiuna.

 

Acessos mais próximos:

 

Projeto Pomar Urbano – Av. Guido Caloi, nº 551 – Jd. São Luiz (pedestres e ciclistas);

 

Ponte João Dias (pedestres e ciclistas);

 

Ponte Laguna (pedestres e ciclistas);

 

Passarela Global – acesso pela via local da Marginal Pinheiros, em frente ao empreendimento Parque Global (pedestres, ciclistas e estacionamento para veículos). Horário de funcionamento do estacionamento: das 6h às 22h.

Instituto Tomie Ohtake

 

Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) – Pinheiros – SP

 

Metrô mais próximo – Estação Faria Lima/Linha 4 – Amarela

 

Fone: 11 2245 1900

 

Site: institutotomieohtake.org.br

 

Facebook: facebook.com/inst.tomie.ohtake

 

Instagram: @institutotomieohtake

 

Youtube: https://www.youtube.com/@tomieohtake