
Companhias do Brasil estarão representadas na mostra, que propõe um olhar aprofundado sobre a arte e contribuição de artistas negros para a cultura brasileira
Em mais um ano de realização, a Cura – Mostra de Artes Cênicas Negras promove uma rede de encontros, articulação e celebração das performatividades negras no sul do Brasil. Desde 2020 os curadores e equipe de produção vem trabalhando de modo a tornar público a vasta produção de artistas brasileiros e internacionais que compõem um grande espectro das matrizes do pensamento e dos fazeres negros no campo das artes da cena. E assim, chega em sua terceira edição fortalecida e maior, cumprindo sua função política em um país marcado pelas desigualdades, promovendo uma relação profunda com a construção, a manutenção e a contribuição de artistas negros para a cultura brasileira. A Cura ousa, e muito, ao propor um festival simultâneo em duas cidades que se encontram a uma distância de 240 quilômetros uma da outra: Porto Alegre e Pelotas.
Entre 10 e 20 de novembro, A Mostra Cura – Deslocamentos apresentará companhias e artistas de destaque no circuito de festivais, como a Cia. Heliópolis, com o espetáculo A boca que tudo come tem fome (do cárcere às ruas); o coreógrafo Mário Lopes com as três performances que integram o projeto Afrotranstopia, o espetáculo Danúbio, do Grupo Sutil Ato, do Distrito Federal, Cícera, de São Paulo, Cordão, de Malu Avellar, também de São Paulo. Do RS, destaque para a estreia do novo espetáculo da Espiralar Encruza, Molha, e importantes montagens gaúchas como Corpocidade, de Gabriel Faryas, Kiki Ball da Cura, Vozes de Dandara, Relaxamento Afro, entre tantas outras atrações. A Mostra Cura – Deslocamentos é realizada com recursos federais da Lei Aldir Blanc e conta com apoio da Casa de Cultura Mario Quintana, SESC-RS, Ieacen, Fundação Teatro São Pedro, Associação dos amigos do Theatro São Pedro, Secult Pelotas, Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, Cinemateca Paulo Amorim.
Como destaque da programação está um encontro com curadores de festivais brasileiros. ABRE-ALAS: festivais em aquilombamento é uma articulação entre o Festival de Dança Itacaré/BA, do Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo e da Mostra CURA de Artes Cênicas Negras (Porto Alegre/ Pelotas – RS). Esse encontro, que será realizado na Sala Luís Cosme da CCMQ no dia 15, às 15h, amplia a discussão das diferenças éticas e políticas, vislumbrando os devires negros nas artes da cena. Articula estratégias conjuntas para continuidade de eventos negros produzidos no Brasil, buscando o diálogo com instituições nacionais que fomentam as artes. Neste primeiro ano lançam a proposição de um corredor cultural para circulação de artistas e obras cênicas, tendo o espetáculo Danúbio, da Cia Sutil Ato (Sobradinho-DF) como sua primeira experiência. O encontro, que já foi realizado na programação do Festival Dona Ruth de São Paulo em outubro, segue para Itacaré (4/11) e no dia 15 de novembro acontece em Porto Alegre, na Cura. Estarão presentes Verusya Correia, idealizadora e diretora artística do Festival de Dança Itacaré; Gabriel Cândido, idealizador e curador do festival Dna Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo, e Soraya Martins, artista, pesquisadora, crítica de dança e curadora independente, convidada esse ano para a equipe do Dna Ruth. Além dos curadores, representantes da FUNARTE, Itau Cultural, Fundação Palmares e SESC Nacional acompanham o encontro.
“Em 2020 nos debruçamos nas urgências do período pandêmico para promover e fortalecer as redes de criação e de sobrevivência de artistas locais em perspectiva global. Em 2024, ano de enchentes no Rio Grande do Sul, nos movemos em direção ao sul do estado, na cidade de Pelotas, uma das cidades brasileiras com o maior quantitativo de pessoas negras proporcional ao número de habitantes, estabelecendo trocas e promovendo encontros entre artistas locais, da capital e de outros estados do país. Em 2025, a proposta curatorial da Mostra Cura, que se volta para sua curta, porém intensa trajetória, se ocupa em pensar a partir da noção de deslocamentos, os devires criativos negros”, afirma a equipe curatorial. Para isso, a Cura promove encontros e trocas a fim de oxigenar e espalhar esse renovado ar aos quatro cantos do país a partir do RS, um estado conservador e de notória complexidade.
Diáspora, deslocamentos pretos nas geografias, estradas e mapas, na terra, nas matas, entre realidades. Deslocamento de linguagens, no corpo, no tempo. Gesto como deslocamento. Deslocamentos da capital para interior e do interior para a capital. Entre margem e centro, reposicionando lógicas, desfazendo estruturas, criando e imaginando um novo território, que se faz pelos movimentos dos corpos em articulação”, reflete a curadoria. A programação da Mostra Cura 2025 – deslocamentos terá ainda oficinas, residência, encontro com curadores, aula magna, shows, festas, oferecidos de forma gratuita para a população das duas cidades. Artistas locais, nacionais e internacionais em celebração nas rotas do Rio Grande do Sul. “O que podem artistas negros proporem como deslocamento de linguagens consolidadas? Dança, teatro, performance e música tramados por gestos que dinamizam, e rompem limites. Queremos pensar as diferentes e plurais inteligências negras como recriadoras de modos de estar no mundo”, reafirma a curadoria.
PROGRAMAÇÃO
Porto Alegre / Espetáculos
10 de novembro
19h – Cícera, no Galpão Floresta Cultural
11 de novembro
19h – Bandele – 19h, no Teatro Sesc
21h – Afrotranstopia – Movimento I, na Sala Carlos Carvalho
12 de novembro
19h – Zaze Zaze – Uma festa para Vavó, no Galpão Floresta Cultural
21h – Afrotranstopia – Movimento II, na Sala Carlos Carvalho
13 de novembro
11h – Cordão – Travessa dos Cataventos
14h – Afrotranstopia – Movimento III Celebration (filme), na Sala Eduardo Hirtz
19h – Molha, na Zona Cultural
14 de novembro
17h – Relaxamento Afro, na Travessa dos Cataventos
19h – Molha, na Zona Cultural
21h – Danúbio, no Galpão Floresta Cultural
15 de novembro
15h – ABRE-ALAS: festivais em aquilombamento – Encontro de curadores na Sala Luís Cosme da CCMQ
19h – Molha, na Zona Cultural
21h – Danúbio, no Galpão Floresta Cultural
16 de novembro
19h – Molha, na Zona Cultural
20 de novembro
15h – Kiki Ball da Cura: Cultura Negra Brasileira, na Sala Álvaro Moreyra
18h – Vozes de Dandara, no Teatro Renascença
20h – A boca que tudo come tem fome (do cárcere às ruas), no Teatro Simões Lopes Neto
Oficinas Porto Alegre
Dia 8 de novembro
Residência Mário Lopes – 10h às 13h e das 14h às 17h / Espaço Força e Luz
Dia 9 de novembro
Residência Mário Lopes – 10h às 13h e das 14h às 17h / Espaço Força e Luz
Dia 10 de novembro
Residência Mário Lopes – 14h às 18h / Espaço Força e Luz
Dia 12 de novembro
Oficina Relaxamento Afro – 14h às 17h – Sala Sérgio Napp 1 – 2 andar CCMQ
Dia 13 de novembro
Oficina Relaxamento Afro – 14h às 17h – Sala Sérgio Napp 1 – 2 andar CCMQ
Dias 17 de novembro
Oficina Jessé Oliveira – 10h às 12h – CHC Santa Casa
Oficina Ball, das 18h às 20h – Espaço JINKA Núcleo Afro
Dias 18 de novembro
Oficina Jessé Oliveira – 10h às 12h – CHC Santa Casa
Oficina Ball, das 18h às 20h – Espaço JINKA Núcleo Afro
Dia 19
Oficina Cia Heliópolis – 9 às 12h e das 14 às 17h – Sala do Circo – Multipalco
Pelotas/ Espetáculos
10 de novembro
19h – Qual a diferença entre o Charme e o Funk, no Colégio Pelotense
11 de novembro
19h – Cícera, às 19h na sala Carmem Biasoli
12 de novembro
10h – Kuumba conta Histórias – local a confirmar
15h – Bandelli, no Colégio Pelotense
14 de novembro
15h – Katchaku Katchaka, no Céu Artes – Dunas
15 de novembro
19h – Ballroom Ndate Yalla Mbodj – 19h, no Clube Cultural Fica Ahí
16 de novembro
15h – Grão de Areia, no Céu Artes Dunas
17 de novembro
19h – Afrotranstopia – Movimento I
18 de novembro
14h – Afrotranstopia – Movimento III, às 14h no Cine UFPEL
17h – Igba Awo, no Largo do Bola
19 de novembro
19h – Corporicidade – local a confirmar
Oficinas Pelotas
12 de novembro
Oficina Contadores de Mentira, das 9h às 12h, na sala 61/ bloco 3 – Centro de Artes UFPel
Jessé Oliveira – 18h às 22h – Clube Cultural Fica Ahí
13 de novembro
Jessé Oliveira – 9h às 12h, no Clube Cultural Fica Ahí
18 de novembro
Workshop Mário Lopes – das 9h às 12h, no Clube Cultural Fica Ahí
SINOPSES
A boca que tudo come tem fome (do cárcere às ruas) – Cia Heliópolis / SP
Com encenação de Miguel Rocha e dramaturgia de Dione Carlos, o espetáculo da Cia. Heliópolis é resultado da pesquisa do projeto Do cárcere às ruas: o estigma da vida depois das grades, contemplado pela 43ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. A pesquisa partiu da premissa de que o encarceramento deflagra traumas, comportamentos e perspectivas que inevitavelmente estarão presentes na retomada da vida, buscando compreender as consequências do aprisionamento nas tentativas de adaptação fora da prisão e na reconstrução das vidas. Em cena, seis pessoas que passaram pelo sistema prisional brasileiro têm suas trajetórias entrelaçadas. Diante das dificuldades de reinserção social e reconstrução da própria vida, cada uma delas, a seu modo, tenta encontrar uma saída. As marcas do período atrás das grades permanecem na memória, no corpo e nos afetos. Exu, o orixá das encruzilhadas e destrancador dos caminhos, aparece como uma presença provocativa ao despertar naqueles sujeitos a fome de novos começos e a avidez por dignidade.
Afrotranstopia – Movimentos Coreográficos / SP
Obra em três atos complementares, que estrearam em diferentes tempos e contextos. Movimentos I, II e III derivam de uma extensa pesquisa conduzida pelo artista, coreógrafo e pesquisador Mário Lopes. A ativação desta macrodramaturgia em três atos — dois cênicos e um audiovisual, criado e encenado durante a pandemia da COVID-19 — aborda o conceito de Afrotranstopia, desenvolvido por Mário em sua dissertação de mestrado Espumas e Algoritmos Coreográficos. Este conceito explora a intersecção entre tecnologias, existências e afrotranscendências, valorizando saberes ancestrais, resistências matriarcais, indígenas e afro-diaspóricas como fundamentos essenciais. “Como articulador e coreógrafo venho pesquisando e investigando conflitos de normas sociais e corpos estranhos. Mobilidade, encontros, cruzamentos e composições, normas sociais e suas repercussões no corpo e no movimento. Busco constantemente reconhecer, apesar das distâncias e diferenças, uma outra forma de criar, uma convergência de ideias que ajude a deslocar minhas próprias ações” afirma o criador, que estará na Mostra Cura em Porto Alegre e em Pelotas.
Movimento I – Parado é Suspeito – A obra coreográfica investiga o gesto de dar som ao corpo e corpo ao instrumento, a partir de ecos do passado que ressoam no presente. Os movimentos seguem comandos que suprimem o batimento cardíaco, silenciam palavras que buscam se manifestar e revelam o poder da narrativa corporal. Inspirado na frase encontrada na Academia de Polícia Militar dos anos 1990 — Negro parado é suspeito; negro correndo é ladrão —, o espetáculo denuncia os alarmantes índices do extermínio da população negra e o racismo estrutural presente nas instituições policiais. A peça evidencia como estereótipos se perpetuam sem questionamento, sustentando a equivocada associação entre pessoas negras e criminalidade. O movimento levado ao esgotamento provoca no público sensações de angústia, dor e perplexidade, ao assistir o corpo que resiste em saltos incessantes, reconfigurando-se diante do destino que o mira. Seja como espaço de denúncia, escuta ou criação, Movimento I nos impulsiona a projetar novos caminhos de humanidade para os corpos negros.
Movimento II – Kodex_Konflikt – Nesta criação, o foco é a investigação do impacto no corpo em contextos desconhecidos: códigos sociais, processos de adaptação física e momentos de confronto com a condição de “corpo estrangeiro” — seja pela língua, pela cor da pele ou pelos modos de existir. Os que são reconhecidos como estrangeiros buscam estratégias de camuflagem que lhes permitam se adequar, atravessar e penetrar as normas estabelecidas. Movimento II articula dança e performance para revelar os conflitos e adaptações vividos por corpos deslocados e racializados, tensionando as fronteiras entre pertencimento, exclusão e sobrevivência.
Movimento III – Celebração, Espumas Pós-Tsunami (2021) Trabalho coletivo e transdisciplinar, Movimento III articula coreografia, cinema, dança, artes visuais, música, arquitetura e pensamento crítico. Concretiza-se como longa-metragem, instalação imersiva e desdobramento da pesquisa em Afrotranstopia.
As Vozes de Dandara, de Silvia Duarte / RS
No palco está a reunião das cantoras Claudia Quadros, Guaira Soares e Preta Guedes — mulheres negras de reconhecida trajetória artística no cenário musical gaúcho e porto-alegrense. Elas interpretam obras de compositoras negras e compositores de destaque no panorama musical local e nacional, acompanhadas por músicos experientes e de sólida carreira. O repertório celebra e valoriza a contribuição das mulheres negras na música, destacando a riqueza das expressões afro-brasileiras e promovendo visibilidade, representatividade e empoderamento dessas artistas no contexto cultural do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Bandele / RS
O menino nascido longe de casa – bate seu tambor contando a trajetória de sua aldeia. Ele pede ajuda para os espíritos que moram no grande Baobá e protegem todas as histórias do mundo. Inspirado nos sons, tons e imagens da Mãe África, o espetáculo livremente adaptado da obra homônima da escritora gaúcha Eleonora Medeiros, ilustrada por Camilo Martins, reúne contação de histórias, teatro de animação e teatro visual. Bandele, é um espetáculo para ver, ouvir e sentir. Criado em 2018, Bandele, dirigido pelo ator e bonequeiro Leandro Silva, foi precursor dos estudos e temáticas afrobrasileiras. Pensado para ser uma celebração à vida dos corpos pretos, a peça resgata a importância da maternidade, da juventude e do respeito aos mais velhos. De lá para cá foram diversas apresentações, nos mais variados formatos e espaços, com os mais diferentes públicos.
Cícera / SP
A alagoana Cícera traz em sua mala um punhado de farinha, quatro filhas e o sonho de uma vida melhor. Em São Paulo encontra dureza, concreto, fome e saudade. “Cícera” é a história de uma mulher, mas é o retrato da vida de centenas de mulheres retirantes que deixam suas raízes na busca de igualdade social. A anciã, a jovem, a desbravadora, a mãe, a trabalhadora, a que luta por seus direitos. Todas são Cíceras. Atravessada por cantos de trabalho, relatos e memórias a obra apresenta uma mulher nordestina em ponto de ebulição, que dança e saúda sua caminhada. Este é o primeiro monólogo do grupo Contadores de Mentira em 23 anos. Em cena, a atriz Daniele Santana vive a personagem, entre relatos, canções e áudios de senhoras de Alagoas, que colaboram para o entrelaçamento dos temas e reflexões propostos. O grupo, da cidade de Mairiporã, em SP, atua em rede com conexões em vários países. Desenvolve pesquisa e possui identidade na antropologia, história, política e sociedade. É um grupo militante que há anos descobriu que era necessário se organizar em coletivos, em redes, em fóruns, na luta por condições de trabalho aos fazedores de cultura.
Cordão, de Malu Avellar /SP – performance de rua
Malu Avelar elaborou a performance a partir da pesquisa sobre um recorte da produção de Geraldo Filme, artista, compositor, cantor e militante negro, e da presença relevante dos corpos LGBTQIA+ em bairros da cidade de São Paulo. Geraldo Filme desafiou o tempo e as limitações impostas pela sociedade e foi o guardião que cantarolou encantamentos e denúncias para que as nossas histórias não fossem apagadas, um artista cuja obra atravessou as camadas do tempo Assim Malu evoca a entidade do malandro Zé Pelintra e como um corpo sapatão e preto dança pedindo a benção ao vô Gege para dar continuidade à tradição do samba. A dança como linguagem torna-se um rito de passagem e de sensibilidade para ativar outras escutas que permeiam o campo do conhecimento ancestral e espiritual.
Corpocidade, de Gabriel Faryas / RS
O espetáculo surge de observações do artista Gabriel Faryas em diferentes municípios, suas configurações espaciais e de como as constantes mudanças impactam as subjetividades dos corpos que nas cidades se movimentam. O trabalho se inspira em elementos visuais, sonoros e corporais para construir uma encenação sensorial que traga os vestígios dessas urbanidades para uma narrativa cotidiana e humana: a procura por um objeto perdido. Na cena, Guilherme procura em Breu um pequeno objeto que mal reparou cair dos bolsos, tamanha a correria. Ao cruzar toneladas de pedras, surgem coreografias que o lembram de onde pode ter ficado. Deseja reencontrá-lo, nem que tenha que engolir a cidade para isso. Entre sutilezas e monstruosidades, o trabalho aborda, de forma especulativa, temas relacionados aos movimentos, imagens e ruídos de uma cidade-caos.
Danúbio / DF
Dois atores, um adulto e uma criança, percorrem uma jornada lírica e lúdica que brinca diálogos entre uma mesma pessoa em diferentes tempos de vida. Danúbio é o protagonista negro que busca sua própria voz, história e identidade entre as muitas vozes e memórias que habitam seu corpo. As contradições e embates entre a criança e o adulto, convidam o público a mergulhar na complexidade de sentimentos, emoções, cosmologias e ancestralidades que atravessam as memórias e subjetividades pretas. A montagem explora a ancestralidade, a memória e a construção de identidade negra. Com direção e dramaturgia original de Jonathan Andrade, nome bastante conhecido na cena teatral do Distrito Federal, o espetáculo Danúbio promete tocar profundamente o público colocando em cena debates contemporâneos acerca das identidades, memórias e ancestralidades negras. O espetáculo teve sua estreia no final de 2024 e integrou a programação da 28ª edição do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília. Este espetáculo promove o encontro de três festivais em aquilombamento: Mostra Cura, Dona Ruth e Itacaré.
Igba Awo / RS
Performance sonora e corporal que se constrói como ativação artística em tempo real. Protagonizada por Nina Fola e dirigida por Thiago Pirajira, a obra nasce da ancestralidade negro-africana para interrogar o presente. A obra estabelece um diálogo entre cultura de terreiro e experimentação urbana, resistência e celebração, corpo e som, memória e criação. Ao se abrir ao público, afirma o processo como lugar de invenção e conhecimento, em que o fazer se torna também gesto de escuta e transformação. O projeto foi pensado para mostrar a trajetória de um grupo de artistas em torno de um tema que passa pelo sentimento sobre a resistência social e cultural negra-africana. Igba Awo exalta a importância das mulheres negras, das palavras e poesias, das músicas e sons, dos pensamentos e estratégias que construíram e que promovem espaços de ampliação da humanidade negra frente ao mundo antinegro. No centro da cena está a cabaça, e a ela é dada a importância do lugar mitológico africano como “ventre do mundo”, um objeto que guarda segredos (Awo), instrumento que possibilita o acesso à comida e à água e que pode ser uma caixa amplificadora de sons.
Katchaku Katchacka: era uma vez em Odjeidje / RS
O espetáculo narra a coragem e a esperteza do menino Gondœur, vivido por Loua Pacom, que aceita o desafio de enfrentar um grande monstro para defender a sua aldeia. O espetáculo é direcionado para crianças, jovens e adultos, com a proposta de oferecer uma abordagem da cultura africana, que tanto influencia a sociedade brasileira, de maneira lúdica e