A canoa de bambu com seis metros suspensa do teto do Salão dos Espelhos no Asiana dá aquela sensação de um mergulho no mar quando se vislumbra a luminosidade sob a água. O bambu também brota de 35 luminárias espalhadas pelos 600 metros do restaurante especializado na gastronomia da Ásia e prestes a comemorar cinco anos em julho. Tudo obra de um artesão autoditada que escolheu morar no Rio Grande do Sul há quatro décadas. O paulista Nivaldo Feliciano descobriu o bambu em 2002 como hobby. Começou a fazer tochas para festas, percebeu o nicho e largou a atividade de vendedor de livros médicos. Nascia a Bambuzeria NF, de Nivaldo Feliciano.

 

O conterrâneo de Cândido Portinari – ambos são da pequena Brodoswki, noroeste de São Paulo – é um defensor apaixonado da fibra natural. “O bambu é sustentável e versátil. Pode ser usado para montar utensílios, móveis e uma casa inteira. Não é uma moda, tanto que os países asiáticos usam há muito tempo, e nós temos muito a aprender com eles“, afirma o artista que completará 62 anos em julho. Ele explica que são necessários alguns cuidados, como cortá-lo não antes do quarto ano de vida, somente quando estiver maduro e seguir as boas práticas de manejo: “Como pode pegar caruncho tem que fazer um bom tratamento”.

 

Até 2013, Nivaldo comprava a matéria-prima em São Paulo, depois o Rio Grande do Sul começou a ter produção própria em cidades como Bom Princípio, Bom Retiro, Encantado e Ronda Alta. O setor está bem organizado, e Nivaldo integra a Bambu BR (Associação Brasileira de Bambu). Em janeiro e fevereiro deste ano, inclusive, passou uma temporada em Belém ensinando e fazendo cabides para os participantes da COP 30 pendurarem seus pertences. Alguém se preocupou em os cabides terem coerência com a proposta da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a ser realizada em novembro, na capital do Pará.

 

O processo de criação de Nivaldo começa sempre visitando o local destinado a suas criações. “Eu preciso ter uma inspiração, trabalhar em cima de uma ideia“. Foi como ocorreu no Asiana, pois o pedido para ele construir o barco partiu do arquiteto Conrado Lang Silva, do escritório TAO Arquitetura, responsável pelo projeto do empreendimento. Depois, sozinho em seu atelier, em Santa Cruz do Sul, concretiza a ideia direcionada à construção, movelaria ou artesanato.

 

Quando ele a mulher – a contadora gaúcha Fátima – jantaram no Asiana, ela se deliciou com o clássico tailandês Pad Thai (massa frita com frango e legumes), enquanto Nivaldo escolheu um prato originário do Japão, Chinjao Rosu, preparado com filé salteado, pimentão verde e, claro, suculentos brotos de bambu.

 

Esta canoa não vira

 

A inspiração para a canoa veio da obra “Passage” 2021, da artista japonesa Chiharu Shiota, exposta na WINX Tower Frankfurt. Seguiu-se a esse ponto de partida, testes de ambientação no salão, cujo pé direito alto foi perfeito para despertar a sensação de movimento. “Queríamos uma dupla utilidade, a luminária como uma obra de arte mesmo, tudo com o volume que remetesse a algo flutuando no espaço“, detalha Conrado. Ele próprio envolveu a estrutura de bambu com papel arroz, para através da transparência, emanar a luz quente e envolvente.