O Museu de Arte do Paço (Praça Montevidéu, 10, Porto Alegre) tem o orgulho de inaugurar, no dia 6 de agosto, das 18h às 20h, na Sala Aldo Locatelli, a exposição " Boscagli, de Júlio de Castilhos a Rondon", uma mostra que celebra os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, destacando a trajetória de Giuseppe Boscagli, pintor e fotógrafo italiano, cuja obra e vida entrelaçam-se com momentos marcantes da história brasileira. A mostra ficará aberta ao público até 31 de outubro, oferecendo uma oportunidade única de conhecer uma faceta pouco explorada da História da Arte e da imigração italiana no Brasil, através do olhar de um artista ítalo-brasileiro que deixou um legado de grande valor.

 

Sobre o artista:

 

Giuseppe Boscagli nasceu em 29 de abril de 1862, na comuna de Rapolano, província de

Siena, Itália, e faleceu no Rio de Janeiro, em 30 de maio de 1945. Em 1888, imigrou para a

Argentina, em Buenos Aires, trabalhando em um estúdio portenho, onde recebia

encomendas da agência deste estúdio em Porto Alegre. Os primeiros retratos que produziu

lá, a partir de 1897, são entregues a seleta clientela do estúdio local de Jachinto Ferrari, precedendo a notoriedade do pintor antes mesmo da transferência para Porto Alegre, no final

de 1899. Então, pode-se dizer que o pintor adentrou na cena cultural rio-grandense antes

mesmo de se transferir para a nossa capital, na qual permaneceu apenas até 1900, quando se mudou para Bento Gonçalves, onde fixou residência com a família até 1906, com várias idas e vindas a Porto Alegre. Em 1901, representou Bento Gonçalves na Exposição Estadual

com um retrato que foi premiado com menção honrosa. No retorno a Porto Alegre, em 1906, se associou à viúva do fotógrafo espanhol Iglesias, o que deu origem à “Photographia Artística Boscagli”, no número 220 da Rua Riachuelo, local muito próximo à Praça da Matriz,

região nobre da cidade, estúdio que manteve esse nome até 1919. Sua versatilidade o levou

a produzir retratos a óleo, aquarelas e crayon, participando com destaque, na cena artística e cultural do Rio Grande do Sul. Em meados de 1908, viajou ao Rio de Janeiro, a serviço de empresas gaúchas para elaboração do álbum fotográfico: “Rio Grande do Sul na Exposição Nacional de 1908”, no bairro da Urca, em comemoração ao Centenário de Aberturas dos Portos do Brasil. Nesse mesmo ano de 1908, seu genro, o Aspirante Luiz Thomaz Reis (1878-1940), também seguiu ao Rio de Janeiro para cursar a Escola de Engenharia do Exército. E se presume que, tanto a esposa do pintor, Luiza Luraschi Boscagli (1874-1968), quanto a única filha do casal, Hermínia Ignez Boscagli Reis (1894-1939), seguiram junto.

Conforme fontes, estabeleceram residência a rua do Areial, hoje rua Moncorvo Filho, no centro do Rio, próximo à Praça da República.

 

No Rio de Janeiro, Capital Federal da República, naquele momento de transformações

urbanísticas e sociais e com artistas já estabelecidos e atuando na cidade, do nível de um Rodolfo Amoedo (1857-1941), Boscagli foi em busca de difundir a sua arte em centros promissores, aportando nas capitais de Vitória, no Espírito Santo, e Belo Horizonte e na florescente Juiz de Fora, em Minas Gerais, cidades com representativos contingentes de

imigrantes italianos em suas populações. Artista dotado de talento incomum e com domínio das técnicas de fotografia e de pintura associadas, ensinou a outros fotógrafos italianos

locais, que, em contrapartida, lhe dispuseram novos mercados. Por consequência, atuou com destaque naqueles estados, entre 1910 e 1915. Hoje suas obras podem ser

encontradas no acervo do Palácio Anchieta, em Vitória, e no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte.

Em 1915, com a aproximação ao Marechal Rondon, retratou-o em diferentes postos da

carreira militar. E, incumbido de produzir imagens a cores da Comissão Rondon e dos

diferentes povos originários a partir dos negativos de vidro e dos fotogramas do cinema

silencioso do Major Thomaz Reis, seu genro, acrescentando às cenas um realismo

inalcançável à incipiente tecnologia da época.

Retratou aspectos da fauna, flora, povos indígenas e costumes locais. Seu trabalho é uma valiosa documentação visual do Brasil no início do século XX, especialmente das

comunidades indígenas e dos pioneiros das regiões de colonização. Nesse contexto, o pintor e fotógrafo imigrante – que frequentou a Academia de Belas Artes de Florença – no Brasil se redefiniu ao ideário almejado pelo Positivismo na representação do indígena na sociedade brasileira. A sua dedicação ao gênero etnográfico promoveu visibilidade de distintos povos

originários e a difusão da ideia de que essas etnias também integravam o corpo da Nação.

Concomitante, produziu incontáveis retratos para instituições civis, militares e religiosas que

homenageavam suas lideranças, tais como, presidentes: Hermes da Fonseca (1910), Afonso

Pena (1931) e Getúlio Vargas (1938); papa Leão XIII (1910); rei Alberto I (1920);

governadores (RS, ES e MG), Júlio de Castilhos (1899); cardeal Sebastião Leme (1930),

juízes (MG); generais (RS, RJ e MG), Cândido Rondon; os três caudilhos rio-grandenses:

Manoel Marques de Souza – “Conde de Porto Alegre”, Silveira Martins (1918) e Pinheiro Machado (1915), obras inéditas no Rio Grande do Sul.

Sobre a curadoria e pesquisa:

Sob a curadoria de Luiz Pasquali Almeida, gaúcho residente em Florianópolis, a exposição surge após anos de pesquisa aprofundada na iconografia de Boscagli, incluindo a recuperação de obras inéditas e de grande valor histórico, muitas das quais estiveram sob a guarda da antiga Sociedade Sul Rio-Grandense, no Rio de Janeiro, e agora retornam ao

público, por custódia do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. A pesquisa revelou a influência de artistas brasileiros e europeus, como Pedro Américo, Décio Villares, Francesco Morini e Pompeu Massani, na formação estética de Boscagli. Sua obra reflete uma combinação de realismo, emoção e uma exaltação às lideranças que contribuíram para o desenvolvimento social e cultural do Brasil, alinhando-se à proposta plástica e filosófica do Positivismo, destacando a figura do líder e voltada à evolução da sociedade.

 

Objetivo da exposição:

Celebrando os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, a mostra destaca o papel de imigrantes italianos na formação da identidade regional e nacional através de sua memória visual – retratos, paisagens, marinhas e registros etnográficos produzidos por Boscagli no Brasil entre 1899 e 1945. Além disso, a exposição agrega registros da expedição

Roosevelt-Rondon (1913-1914), uma das mais emblemáticas do sertanismo brasileiro, que

colocou Cândido Rondon e sua atividade em destaque internacional. A exposição também dialoga com conceitos de autenticidade e singularidade na arte, trazendo à tona a ideia de “Aura” de Walter Benjamin, ao valorizar a originalidade e a relação genuína com o passado

das obras recuperadas.

Destaques da mostra:

Apresenta obras originais em óleo, cartão e madeira, incluindo oito retratos históricos de figuras públicas como Conde de Porto Alegre, Gaspar Silveira Martins e Pinheiro Machado, bem como pinturas de paisagens, marinhas e uma obra etnográfica que revela a

sensibilidade do artista na representação do Brasil indígena, além de documentação fotográfica cedida pelo Arquivo do Palácio Real – Bruxelas/BE, mapas e reproduções que ampliam o entendimento do legado de Boscagli na documentação visual do Brasil nas cinco

décadas iniciais do século XX.

 

SERVIÇO

 

Exposição: Boscagli, de Júlio de Castilhos a Rondon

abertura: Dia 06 de agosto de 2025, das 18h às 20h

local: Museu de Arte do Paço, Praça Montevidéu, 10, Centro Histórico, Porto Alegre

visitação: Até 31 de outubro de 2025, de segunda à sexta, das 9h às 17h

ENTRADA FRANCA

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